Desacato

Algumas perguntas diante da barbárie policial brasileira

Escrito por Juliana Britto

Polícia para quem precisa?

Para que serve a polícia? A quem a polícia serve? De que cor é a polícia?

Os oficiais e os soldados têm a mesma cor? De que cor são os suspeitos mortos em “confronto com a polícia”? De que cor são os policiais que tombam em serviço? De que cor são os que recebem os melhores salários e exercem as melhores funções na polícia? De que cor são os policiais que precisam trabalhar por fora para complementar a renda?

Quem tem medo da polícia? Quem se sente seguro ao avistar um policial armado? Quem confia na polícia?

Quem usa drogas? Onde moram? Quem lucra com o tráfico internacional de drogas? De quem era a droga no avião presidencial? De quem era a droga no helicóptero do político mineiro?

Por que o branco e rico é apenas usuário e o preto, pobre e periférico é sempre traficante?

Por que o rico grita e humilha o policial diante das câmeras e não vai preso e o preto pobre e periférico apanha da polícia somente por ser pobre, preto e periférico?

Por que as polícias treinam para identificar em todo pobre, preto e periférico um bandido em potencial?

Por que os bandidos ricos e brancos não sofrem agressões e nem são mortos em operações policiais?

Por que cultuamos como heróis policiais que matam pessoas a sangue frio? Gostaríamos de apertar o gatilho com eles?

Por que os policiais que metralharam uma família com mais de 200 tiros não foram punidos?

Por que Amarildo nunca foi encontrado?

Por que alguém quer ser policial no Brasil? Por que os policiais não denunciam os abusos?

Por que aceitamos que a polícia mate pessoas pobres, pretas e periféricas dentro de suas casas ou nas ruas e metrôs das cidades sem nenhuma consequência?

Por que quem investiga a polícia são outros policiais?

Por que aceitamos a expressão “balas perdidas” para contar tragédias de incontáveis crianças mortas? Elas também são “suspeitas”?

Por que tantos policiais têm matado suas companheiras?

Por que tantos policiais sofrem com distúrbios mentais e outros tantos cometem suicídios?

Por que policiais precisam fazer bicos para sobreviver?

Por que tantos policiais estão envolvidos com as milícias e esquemas de corrupção?

Por que precisamos de tantos policiais e seguranças para conter os pobres, pretos e periféricos?

Por que policiais pobres e pretos esquecem que são apenas trabalhadores e aceitam fazer o serviço sujo do Estado ao protegerem a propriedade e não respeitarem a vida de outros trabalhadores como eles?

Por que aceitamos nos alimentar de tanto ódio? Por que somos tão violentos?

Por que tantos pobres, pretos e periféricos morrem da miséria e da violência?

Por que os presídios estão cheias de pobres pretos e pretas acusados de pequenos delitos e sem ao menos serem julgados?

Por que os ricos e brancos ricos quando condenados não ficam presos nas mesmas condições que os pobres, pretos e periféricos?

Por que aceitamos a mentira de que é moral um policial matar um “suspeito”?

Por que fingimos que não há pena de morte no Brasil?

Por que o Judiciário é conivente?

Por quê, nesse país, só os pobres, pretos e periféricos são suspeitos e os ricos são inocentes até que se prove o contrário, muito depois que todos os recursos jurídicos estejam esgotados?

Por que aceitamos a justificativa de que o morto “tinha passagem pela polícia”?

Por que aceitamos que a polícia torture presos?

Por que aceitamos tantas chacinas e fingimos que não é com a gente?

Por que odiamos os Direitos Humanos?

Por quê?

Por quê?

Por quê?

O que realmente interessa agora é o que faremos com as respostas. O que faremos? Queremos fazer algo?

Sobre o autor

Juliana Britto

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