Engraçado o quanto desejamos tudo por inteiro quando somos apenas restos do que um dia fomos. Desde que nascemos, começamos a ser cronologicamente despedaçados, divididos em partes desiguais para todos aqueles que precisam de uma prova tangível de nossa existência.
Crescemos nos despedindo de valores que aprendemos, de coisas que nos apegamos e que se esfarelam no anseio pouco inteligente de compartilhar. Entramos e saímos de relações juntando pedaços para montar versões sintéticas de nós mesmos.
Antes plurais. Hoje, sequer singulares.
Um processo de estilhaços, memórias curtas e emoções breves que nunca poderiam permanecer intactas. Distribuímos trechos, fragmentos convenientes para convencimento ocasional. Talvez por isso tantos clamem à boa vontade do destino para que algum afortunado os complete.
É mentira quando dizem que podemos transbordar quando estamos progressivamente incompletos.
Somos sobras até não sobrar mais nada pra nós e tudo para os outros.