Pensamentos crônicos

Aos pedaços

Escrito por Brunno Lopez

Engraçado o quanto desejamos tudo por inteiro quando somos apenas restos do que um dia fomos.

Engraçado o quanto desejamos tudo por inteiro quando somos apenas restos do que um dia fomos. Desde que nascemos, começamos a ser cronologicamente despedaçados, divididos em partes desiguais para todos aqueles que precisam de uma prova tangível de nossa existência.

Crescemos nos despedindo de valores que aprendemos, de coisas que nos apegamos e que se esfarelam no anseio pouco inteligente de compartilhar. Entramos e saímos de relações juntando pedaços para montar versões sintéticas de nós mesmos.

Antes plurais. Hoje, sequer singulares.

Um processo de estilhaços, memórias curtas e emoções breves que nunca poderiam permanecer intactas. Distribuímos trechos, fragmentos convenientes para convencimento ocasional. Talvez por isso tantos clamem à boa vontade do destino para que algum afortunado os complete.

É mentira quando dizem que podemos transbordar quando estamos progressivamente incompletos.

Somos sobras até não sobrar mais nada pra nós e tudo para os outros.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.

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