Divã-neando

Não deixe o samba morrer

Escrito por Mayara Godoy

Não importa muito se você é do samba, do rock, do reggae, do pop ou do jazz. Não deixar o samba morrer é universal.

Estava assistindo ao show da Iza com a Alcione no Rock in Rio e pensando no que escrever para esta semana. Imediatamente, me veio à cabeça a mensagem de um que acredito ser dos maiores sucessos nacionais: “Não deixe o samba morrer”.

Eu sempre fui mais da vertente do róque ênrow, mas nutro um profundo respeito e admiração por nossos sambistas mais consagrados – entre eles, é claro, a Marrom.

Me peguei pensando em quantas vezes eu usei, metaforicamente, a frase “não deixe o samba morrer”. E em quantas vezes eu precisei fazer um esforço sobre-humano para continuar sambando.

Em todos os momentos difíceis, de algum jeito, eu consegui não deixar o samba morrer. Houve diversas vezes em que eu tive a impressão de que a roda se desfez, e eu sobrei por último dedilhando um cavaquinho melancólico – só para não deixar o samba morrer.

Nos dias mais desesperadores, em que eu me vi sem ritmo e sem graça, de alguma forma, um batuque de surdo ainda pulsava dentro de mim. Foram incontáveis as vezes em que eu me senti tendo que tocar sozinha o tamborim, o tantã e o bandolim. Mas não deixei o samba morrer.

Eu nasci bem longe do morro e da tradição mais brasileira que existe, mas não houve um só dia na minha vida em que eu não tenha dado um tapa no pandeiro nem que fosse só para não deixar o silêncio vencer.

Em inúmeras ocasiões, eu não fazia a menor questão de pisar na avenida, sentindo-me sem gingado, desafinada e descompassada. Mas, sabendo que a minha escola depende única e exclusivamente e de mim, busquei forças em quaisquer notas musicais disponíveis, e toquei o desfile.

Acho que, no fundo, no fundo, a vida não é sobre os grandes shows, pois estes são, apesar de intensos, passageiros.

Independentemente do seu estilo musical, eu acho que a vida é, realmente, sobre não deixar o samba morrer especialmente nas circunstâncias em que as pernas parecem não mais aguentar. 

Por aqui, eu não deixo o samba morrer, não deixo o samba acabar. E, se depender de mim, ainda haverá muito samba para gente sambar.

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.

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