Canto dos contos

Snafu

Escrito por Guilherme Alves

Snafu (sna-fú) [do inglês snafu /sna’fu:/] S.m. 1. confusão, caos, bagunça; Adj. 2. em estado de confusão ou caos absoluto.

João estava apaixonado, daquelas paixões que deixam a cabeça da gente nas nuvens. Andando pela rua, viu o carro de sua amada, e quis fazer-lhe uma surpresa. Pegou um pedaço de papel, rabiscou um bilhete, e o prendeu ao para-brisa:

“Anseio por teus beijos. J.”

Acontece que o carro não era da amada de João, e sim de Bárbara, que estava no mercado com o marido, extremamente ciumento. Ela chegou ao carro primeiro, e, quando viu o bilhete, imaginou ser de seu amante, que se chamava Jeremias. Antes que o marido, que vinha logo atrás, percebesse, jogou o papel dentro de uma das sacolas.

Ao chegar em casa, Bárbara deixou as sacolas na cozinha para que Neide, a empregada da família, as guardasse. Encontrando o bilhete, ela achou que fosse de Júnior, o filho do casal, que de vez em quando dava umas investidas nela. Levou o bilhete até o quarto do atrevido para confrontá-lo, mas ele não estava lá, e, ao ouvir Bárbara chamá-la, acabou deixando-o sobre a cama do rapaz.

Júnior chegou da rua, viu o bilhete, e achou que havia sido escrito por Jennifer, secretária gostosona de seu pai que de vez em quando ia até lá buscar documentos, e estava na sala quando ele chegou. Não acreditando em sua sorte, foi até ela e já saiu agarrando a moça.

Jennifer muito propriamente fez um escândalo, e toda a família correu para ver o que era. Neide fez coro com a secretária, dizendo que o moleque era tarado, e, para se defender, Júnior mostrou o bilhete. Em pânico, Bárbara confessou que tinha um amante, suposto autor do bilhete, e, quando seu marido ficou irado, Jennifer falou que ele não tinha moral para reclamar, pois mantinha um caso com ela há anos.

Enquanto isso, no telefone com sua amada, João ria da confusão que fizera. O carro dela era azul, não vermelho.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

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