Nos últimos anos, uma das coisas que mais li na minha bolha – e falei também – foi a seguinte frase: eu avisei. E saindo da minha bolha e pensando nas outras bolhas alertantes, com a polarização que tomou conta do nosso país, é muito improvável que alguém venha a dizer: não fui avisado.
Foram avisados à exaustão. “Ouçam as palavras de ódio bradadas em palanques como se fossem um simples ‘olá’. Ouçam o que vocês insistem em dizer que não foi bem assim, que não era essa a intenção, que errar é humano. Ouçam nossos apelos, então. Ouçam”.
Ninguém ouviu, porque ler também seria demais, ninguém deu a mínima. Talvez por concordarem com as falas, talvez por uma ignorância latente que não permite nada que ultrapasse o “porque eu quero, então é assim”. O fato é que todo mundo, sim, todos nós, vamos rodar juntos.
E não é a ciranda que a esquerda – da qual faço parte desde pequenininha – tem tentado dançar com flores brancas na mão e histérica zoação das barbaridades proclamadas pela direita. A direita que está no poder. Com a mão de um Deus tenebroso apoiada em seus ombros. Ou seria pisando fundo sobre os ombros de Deus? A direita que permite que um ministro da cultura sente-se numa cadeira confortavelmente para replicar um discurso nazista.
Parece o fim dos tempos, mas eu digo, com dor no coração, que é só o começo do fim dos tempos.
Ah, mas ele não sabia…
Aham…um dramaturgo que já foi conceituado no meio teatral, que com certeza é muito ligado ao texto, ao cenário e à trilha, ia fazer exatamente aquela representação por acaso? Impossível, meu amigo. Porque o ego não deixa. Porque não podemos subestimar tanto o nosso intelecto.
Ah, mas ele foi demitido…
Sempre o mínimo. E só porque pegou mal. Até parece que não amaram mais esse esgoto aberto, com mais gente se sentindo confiante pra abraçar mais essa causa fétida. As pessoas estão vestindo suásticas e indo para bares e praças de alimentação de shoppings e ninguém fala nada. Pronunciamento no Twitter? Isso tinha que dar cadeia.
Os avisos têm sido dados, ninguém ouve… e quem ouve se cala por medo, por essa anestesia terrível de não ter lideranças para transformar a ciranda em fogo, por não acreditar que isso tudo possa estar acontecendo agora.
Eles não estão mais flertando com o nazismo e com tudo de ruim que o totalitarismo representa. Eles estão beijando o nazismo na boca e arriando as calças. Ninguém vai poder dizer que não foi avisado.