Sei que não é lá muito atrativo começar um texto constatando o óbvio. Mas, terei de fazê-lo: estamos vivendo tempos difíceis.
Tenho certeza de que, só por esta primeira frase, você já acha que estou falando do coronavírus, não é?
Sim, estou falando do coronavírus, mas de muito mais que ele.
Estou falando do quanto o ser humano nunca falha em demonstrar sua irracionalidade em tempos difíceis.
Estou falando das pessoas que insistem em duvidar de dados, pesquisas, estatísticas, mas imediatamente defendem – e saem repetindo – toda e qualquer baboseira que recebem pelo “Zap”, mesmo que não tenha fonte ou embasamento.
Estou falando das pessoas que, ao se depararem com alguém criticando o atual presidente, automaticamente já inferem que você está defendendo ou idolatrando outro.
Estou me referindo às pessoas que, presas nesses maniqueísmos, não conseguem enxergar a infinidade de coisas que existem no meio.
Estou, sim, criticando as pessoas que só sabem olhar para o próprio umbigo, quando todo mundo ao redor padece – de medo, de fome, de dor, de cansaço.
A epidemia da irracionalidade talvez seja a maior e mais duradoura da história da humanidade. Desde os tempos em que se matava as pessoas porque tinham uma religião diferente, um modo de vida diferente, uma sexualidade diferente… Ops, eu falei isso no pretérito?
Há quem afirme que as pessoas são essencialmente boas, e as ruins são a exceção. Não vou tentar entrar nesse mérito aqui, até porque “bom” e “mau” são conceitos muito relativos. Mas, o que eu posso afirmar é que as pessoas são, sim, essencialmente individualistas.
Talvez seja instinto de sobrevivência, talvez seja histeria coletiva, talvez seja efeito manada, talvez sejam muitas outras coisas, mas ao fim e ao cabo, é o mais puro e simples egoísmo mesmo.
Desde a pessoa que compra um estoque de máscaras respiratórias, mesmo não precisando delas, até aquela que, em tempos de epidemia de dengue, ainda joga lixo na rua – ou ainda aquela que insiste em não se vacinar contra o sarampo porque “não acredita em nada disso”. Viram? não estou falando só do coronavírus.
Claramente, ninguém está pensando no outro.
Você pode até não estar doente, não ter medo de ficar doente ou não estar no grupo de risco. Mas, o que custa ajudar a proteger quem está em risco maior que você?
E, que tal pensar um pouco naquelas pessoas que não têm condições de fazer compras em grandes quantidades, ou que não têm a opção de “evitar” o transporte público, ou de comprar um repelente?
Não é necessário tomar medidas drásticas, apenas ser racional e exercitar um pouco algo que, eu sei, já caiu em desuso, mas faz muito bem: a compaixão.
Vale para o coronavírus, vale para a dengue, vale para o sarampo, vale para a vida.
Outro dia vi o absurdo de um casal que, infectado pelo COVID-19, obrigou sua empregada doméstica, que não estava infectada, a ir trabalhar assim mesmo. O que dizer dessas pessoas?
Eu acredito, sinceramente, que a pandemia do coronavírus, em breve, vai passar, e vamos poder voltar à nossa vida normal. Mas a da irracionalidade, eu já acho que não tem cura mesmo.
Pois é, os supermercados de Londrina estão abarrotados e o preços subiram. Coletivismo nunca foi o forte dos brasileiros. O individualismo praticado por aqui é o mais puro egoísmo.