Atenção: Essa é a parte 2, recomendo não ler se você ainda não leu a parte 1. Para ler a parte 1, clique aqui.
Deixando o painel com a história de lado, me pus a percorrer os corredores do templo. É importante dizer que parecia ser um templo subterrâneo: as portas eram como as de um porão, presentes em uma pequena elevação na savana, cobertas por vegetação rasteira, difíceis de serem identificadas de longe. Conforme eu avançava, sentia que ia descendo cada vez mais. A luz do dia já não alcançava os corredores além do hall de entrada, e foi necessário que eu acendesse meu lampião. Mas procurava usá-lo no mínimo alumiar possível, pois não queria ficar sem luz justamente nas partes mais escuras do interior do templo.
A princípio, o caminho parecia bastante direto, e eu tinha certeza de que em breve chegaria à sala do tesouro. Após alguns metros de caminhada, entretanto, cheguei a um beco sem saída, e só então descobri que, enganado pela pouca iluminação, e já bastante embriagado com minha própria descoberta, não percebi que o caminho era uma espécie de labirinto, e que eu havia passado direto por vários corredores laterais. Retornei um pouco e entrei no primeiro deles; pegando um bloco em minha mochila, comecei a traçar um mapa rude, para evitar que me perdesse.
Enquanto explorava o labirinto, minha mente racional começava a perceber de onde havia surgido a lenda da criatura mística: pelo formato dos corredores, com a porta do templo aberta, o vento fazia estranhos sons, ora como se fosse uma respiração, ora como um animal bufando. De início achei que fosse realmente um animal, que talvez as portas do templo não estivessem fechadas há tanto tempo assim, mas, prestando mais atenção, concluí que deveria ser um dispositivo engenhoso criado pelos construtores do templo para que o vento simulasse esses sons.
Até que comecei a ouvir passos. Lentos e pesados, mas se aproximando cada vez mais de mim. Por melhores que tenham sido esses construtores, era impossível que eles conseguissem simular esses sons. Comecei a pensar, então, que o templo poderia ter outra entrada, e que um animal talvez realmente estivesse ali dentro. Mas não poderia ser um animal leve como um leopardo ou hiena. Pelo som dos passos, era pesado, como um hipopótamo, búfalo, ou… um rinoceronte.
Estava em meio a esses pensamentos quando os passos se tornaram um trote. Assustado, me virei para olhar na direção da qual havia vindo, e, pelo canto do olho, vi algo passando. Definitivamente, não era um animal. Era muito alto, cerca de dois metros de altura. Eu sabia que não podia ser o Rinocerontomem, mas… será?
Prestando extrema atenção aos sons dos passos, prossegui. Em alguns corredores, eles pareciam mais próximos, em outros, mais distantes. Por vezes, no canto do olho, via passar a suposta criatura, sempre de relance. Se era mesmo uma criatura mística protetora do templo, não estava fazendo um bom trabalho, pois parecia nunca entrar no mesmo corredor que eu, sempre passando em velocidade pelos caminhos perpendiculares.
Por outro lado, eu jamais parecia chegar na sala do tesouro. Meu mapa já estava enorme, ocupando várias páginas do bloco, e eu já havia perdido a conta da quantidade de vezes em que me deparei com um beco sem saída ou retornei sem querer a um caminho que já havia percorrido – ou pelo menos que achava que o tinha feito.
Atormentado pelos sons, pelos vislumbres da criatura, e já irritado por parecer não conseguir chegar a lugar algum, já estava cogitando retornar ao acampamento e voltar ao templo com uma equipe e material mais adequado, quando aconteceu.
Ao virar uma esquina, o vi, no final do corredor. Era o Rinocerontomem, tal qual as gravuras do hall de entrada o representavam.
Ele estava de frente comigo. E, de repente, começou a arrastar seus pés no chão.