Voa a borboleta azul, pela rua, pelas plantas, voa daquele jeito meio desajeitado que as borboletas voam, como se fossem leves demais pra conseguir voar na direção que estão querendo. Voa, tão azul, tão bonita, tão leve, voa como se o mundo fosse dela, como se só existissem borboletas no mundo.
A borboleta azul encontra uma flor, sorve seu néctar, e voa mais um pouquinho. Voa meio empurrada pelo vento, meio parecendo que vai cair, mas tão linda, tão leve, tão borboleta.
A borboleta azul encontra uma janela, tenta entrar, o vidro está fechado, ela dá uma cabeçada, decide parar pra descansar um pouquinho, meio zonza do impacto.
Dentro da casa, uma família está brigando.
A borboleta não entende a língua dos humanos, assim como os humanos não entendem borboletês. Mas vê claramente que eles estão brigando. E pensa, em seu cérebro diminuto, em sua cabecinha tão leve, que há pouco bateu contra o vidro com violência.
E se lembra de que, até bem pouco tempo, era uma lagarta, asquerosa, rastejando, comendo uma folha, comendo, comendo, comendo, sua vida era comer, não sabia fazer mais nada, comia, comia, comia, até que começou a se enrolar em um produto de si mesma, crisálida, pupa, dormiu lá dentro e acordou borboleta.
Com apenas quatro semanas para viver. No máximo.
Porque as borboletas são lindas, são leves, são borboletas, mas não são longevas. Depois que sai de seu casulo, a borboleta tem um mês, só um, na melhor das hipóteses, pra aproveitar sua vida na Terra.
Por isso, antes de deixar a janela, antes de sair borboleteando por aí, daquele jeito tão borboleta que só as borboletas conhecem, a borboleta azul dá mais uma olhada para a família que está brigando, e pensa:
– Eu, hein.
Gosto da forma eclética que Guilherme escreve, sabe ser divertido, romântico e se escreve em capítulos sabe prender nossa atenção para aguardar ansiosamente o restante da história. Parabéns