Se o Murphy da quarentena ainda não tinha me encontrado, o Murphy da mudança fez questão de marcar presença e inaugurar uns estragos na minha casa nova. Eu até andava ressabiada com todo o processo de separação e mudança sem percalços: tudo acordado, consegui alugar o apartamento que eu queria, com praticamente toda a mobília, pertinho do meu trabalho e por um valor que não me custaria as córneas.
OK, eu já tinha tido uma infecção urinária há duas semanas, quando tive que ir ao Pronto-Atendimento em plena pandemia, mas saí dessa sem grandes prejuízos, e principalmente, sem corona. O resto até que ia bem. Nada quebrado durante a mudança, feita num belo dia de sol depois de uma semana chuvosa. Consegui limpar e arrumar a casa quase toda sem a ajuda de ninguém, e é claro que ainda tinha umas pendências de manutenção no apartamento, mas o funcionário da imobiliária logo viria pra consertar – serviço não realizado, mas isso é história pra outra crônica.
Até que aconteceu tudo numa só rasteira – ou sessão de porrada na cara, porque a vida me trata assim. Cheguei do trabalho e fui lavar a louça. Constatei que a água da torneira não esquentava (e eu achando que nunca mais teria que esquentar caneco de água pra jogar nas panelas engorduradas). Liguei pra loja que tinha instalado o chuveiro a gás aqui, para então ouvir do atendente que o aquecedor precisava ser trocado, segundo o técnico, e que era pra eu não ligar a ducha. Mensagem pra imobiliária, sem resposta. No telefone, atendentes ocupados. Véspera de feriado.
Chorando, já pensando no banho frio que eu teria que tomar, segui desencaixotando meus eletrodomésticos, quando derrubei a jarra do meu liquidificador no chão. Nem preciso dizer que ela se desintegrou em mil cacos e ainda me cortou o dedo (dedo este que foi novamente cortado pela lata de creme de leite dias depois, porque a lei da atração Murphyana funciona além dos dedinhos do pé). Meu filtro de barro devidamente encomendado e pago não chegava, já era hora da terapia e eu ainda tinha a preocupação da sina das entregas, já que acumulava uma encomenda perdida e devolvida duas vezes pelo correio. Foi puxado pra mim.
Por fim, o problema não era do aquecedor, e sim do gás, que alguém tinha desligado na portaria. O filtro chegou tarde, mas chegou, e tal qual o Professor Cerginho da Pereira Nunes, realizei o meu sonho. É claro que depois disso já estraguei mais objetos (coloquei minha cafeteira italiana no fogo sem água, e ao me dar conta do erro, corri com ela pra pia super quente e a apoiei sobre um tecido de microfibra que ficou todo grudado no fundo) e ganhei muitos hematomas por conta da nova disposição de móveis e maçanetas. Ainda sigo sem liquidificador por motivos de R$ 80 uma jarra da Oster, e o dedo segue em processo de cicatrização. Mas agora tô sentindo uma dorzinha aqui do lado… rezem pra não ser apendicite.