Murphy Days

Murphy de casa nova

Escrito por Rose Carreiro

A Lei Murphyana Natural das Coisas diz que ninguém pode passar por uma mudança sem cortes, arranhões e utilidades domésticas destruídas.

Se o Murphy da quarentena ainda não tinha me encontrado, o Murphy da mudança fez questão de marcar presença e inaugurar uns estragos na minha casa nova. Eu até andava ressabiada com todo o processo de separação e mudança sem percalços: tudo acordado, consegui alugar o apartamento que eu queria, com praticamente toda a mobília, pertinho do meu trabalho e por um valor que não me custaria as córneas. 

OK, eu já tinha tido uma infecção urinária há duas semanas, quando tive que ir ao Pronto-Atendimento em plena pandemia, mas saí dessa sem grandes prejuízos, e principalmente, sem corona. O resto até que ia bem. Nada quebrado durante a mudança, feita num belo dia de sol depois de uma semana chuvosa. Consegui limpar e arrumar a casa quase toda sem a ajuda de ninguém, e é claro que ainda tinha umas pendências de manutenção no apartamento, mas o funcionário da imobiliária logo viria pra consertar – serviço não realizado, mas isso é história pra outra crônica.

Até que aconteceu tudo numa só rasteira – ou sessão de porrada na cara, porque a vida me trata assim. Cheguei do trabalho e fui lavar a louça. Constatei que a água da torneira não esquentava (e eu achando que nunca mais teria que esquentar caneco de água pra jogar nas panelas engorduradas). Liguei pra loja que tinha instalado o chuveiro a gás aqui, para então ouvir do atendente que o aquecedor precisava ser trocado, segundo o técnico, e que era pra eu não ligar a ducha. Mensagem pra imobiliária, sem resposta. No telefone, atendentes ocupados. Véspera de feriado. 

Chorando, já pensando no banho frio que eu teria que tomar, segui desencaixotando meus eletrodomésticos, quando derrubei a jarra do meu liquidificador no chão. Nem preciso dizer que ela se desintegrou em mil cacos e ainda me cortou o dedo (dedo este que foi novamente cortado pela lata de creme de leite dias depois, porque a lei da atração Murphyana funciona além dos dedinhos do pé). Meu filtro de barro devidamente encomendado e pago não chegava, já era hora da terapia e eu ainda tinha a preocupação da sina das entregas, já que acumulava uma encomenda perdida e devolvida duas vezes pelo correio. Foi puxado pra mim. 

Por fim, o problema não era do aquecedor, e sim do gás, que alguém tinha desligado na portaria. O filtro chegou tarde, mas chegou, e tal qual o Professor Cerginho da Pereira Nunes, realizei o meu sonho. É claro que depois disso já estraguei mais objetos (coloquei minha cafeteira italiana no fogo sem água, e ao me dar conta do erro, corri com ela pra pia super quente e a apoiei sobre um tecido de microfibra que ficou todo grudado no fundo) e ganhei muitos hematomas por conta da nova disposição de móveis e maçanetas. Ainda sigo sem liquidificador por motivos de R$ 80 uma jarra da Oster, e o dedo segue em processo de cicatrização. Mas agora tô sentindo uma dorzinha aqui do lado… rezem pra não ser apendicite.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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