Uma coisa é fato: estamos mais politizados. De uns tempos pra cá, muita gente que nunca se interessou ou sequer gostou de debater política vem discutindo ferrenhamente o assunto. Mas não quer dizer que isso seja bom.
Não estamos discutindo projetos de nação. Não estamos buscando construir soluções para melhorar a educação, a segurança, a saúde, a economia, o meio ambiente. Estamos discutindo pessoas.
Não estamos exercendo nossa cidadania ao cobrar uma postura ética e idônea das autoridades. Estamos exigindo dos membros de cada um dos Poderes que promova ações persecutórias contra aqueles que não gostamos.
Não estamos tentando livrar o país da corrupção. Estamos buscando vingança contra aqueles pelos quais, pelo motivo que for, desenvolvemos um ódio cego e irracional.
Não estamos querendo um país mais igualitário. Pelo contrário. Estamos cada vez mais polarizados e segregados. Não estamos reivindicando direitos. Estamos nos engalfinhando para defender privilégios.
Não aspiramos a um país mais justo. Para sermos sinceros, justiça requer sacrifícios – e uma boa parte de nós não está disposta a fazê-los. Não somos capazes de nos unirmos enquanto povo, em prol de uma causa.
Dizemo-nos patriotas, mas, não estamos preocupados com a pátria. É só o nosso velho e bom umbigocentrismo falando mesmo.
Então, sim, estamos mais politizados, mas ainda precisamos evoluir muito – enquanto cidadãos e enquanto seres humanos – para podermos fazer um bom uso disso. Até o momento, me parece que estamos apenas regredindo mesmo.
Poderia dizer que na maior parte das vezes é isso aí mesmo, afinal a nossa “política” é muito personalista, e isso é um problema. No entanto, temo muito as generalizações. Todos estão no mesmo nível de debates? Se não houvesse pessoas que estão resistindo e enfrentando para minimizar os prejuízos causados pelos fascistas no poder tudo seria bem pior. Temos que reconhecer que por causa da resistência, ainda que desarticulada e sem unidade, a tragédia seria ainda mais catastrófica. É que ainda não sabemos caminhar diferente, agregar novos projetos, reconhecer outras formas de solidariedade e governança. O inimigo joga muito baixo, somos muito pacifistas. Nem sei se será possível pensarmos em nação sem passarmos por um enfrentamento violento. A moral dissolve toda racionalidade. Estamos submersos num lodo moralista que visa encobrir nossas contradições e desigualdades. O sacrifício que nos negamos a fazer será nossa ruína. Boa provocação, Mayara Godoy.
Achei válido o engajamento da população durante a eleição, mas ficou claro que ocorreram muitos excessos. Nossa democracia está em processo de amadurecimento, ainda está muito infantilizada e mesquinha. No momento atual, não sei se está igual ou pior que 2018. O fato é que eu cansei, estou triste e decepcionado com muita gente que conheço faz muito tempo. Parei de acompanhar o noticiário. Muito boa sua reflexão.