O poder que a política exerce deve ser bem saboroso, a ponto de aqueles que a representam grudarem suas garras, tal qual um cão faminto agarra um osso e briga ferozmente para não largá-lo e perdê-lo para outro cachorro. Sem querer comparar os cães aos políticos. Os cachorros merecem muito mais consideração.
Mas, quem bebe dessas águas políticas dificilmente quer saber de outras fontes. Transforma a política em sua profissão. Por isso, uma reforma nesse setor era mais do que fundamental e passou da hora de acontecer. Reeleições deveriam ser proibidas, assim como a mesma pessoa se candidatar para um cargo que já exerceu.
A cada dois anos, as mesmas figurinhas carimbadas surgem pedindo votos, prometendo isso e aquilo. E os eleitores praticamente acabam votando sempre nos mesmos, ainda que surjam algumas opções diferentes.
Nas eleições municipais de 2016, teve um candidato em Foz do Iguaçu – prefiro não citá-lo para não dar audiência – que até já foi prefeito da cidade por dois mandatos, mas naquela ocasião estava com problemas na Justiça. Problemas causados na época em que era chefe do Executivo. Ele registrou a candidatura e foi recorrendo das decisões judiciais até a última instância, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Perdeu em todas. Resultado: mesmo ganhando nas urnas, não pôde assumir. A eleição foi anulada e a cidade teve que ter novo pleito, em abril de 2017.
Nesse período, Foz foi comandada de maneira interina pela presidente da Câmara, até que a nova eleição elegesse um novo prefeito. A turbulência política na fronteira não tinha fim, vinha desde a prisão do prefeito anterior, afastado do cargo, e quase todo o Legislativo iguaçuense.
Mas, o candidato impugnado persistiu na candidatura por pura birra e teimosia. Dizia estar apto para ser votado, quando não estava. E mesmo com reportagens na época alertando sobre isso. O jornal onde este autor que vos escreve trabalhava era constantemente massacrado nas redes sociais pelos apoiadores do candidato em questão, dizendo que o semanário mentia. Bom, a história está aí para provar quem é que mentiu.
A condenação na época falava sobre perda dos direitos políticos e impossibilidade de se candidatar a novos cargos públicos por, no mínimo, oito anos. Como a Justiça no Brasil não vale para quem tem dinheiro, seus advogados dizem ter conseguido reverter essa situação, deixando o cliente deles apto para uma nova eleição. E não é que ele vai tentar novamente, quase quatro anos após ter sido condenado?
Detalhe: o novo/velho candidato já teve as contas da prefeitura na época em que comandava a bagaça rejeitadas em três ocasiões: Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas do Estado e Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu. Assessores alegam que contas rejeitadas não impossibilitam a candidatura. Será mesmo? Eu não pagaria para ver, mas caso consiga registrar a candidatura, certamente vai ter eleitor que vai preferir ver para crer.
E assim vai caminhando a humanidade, com políticos brincando de serem candidatos, e eleitores brincando de votar.