Sem meias palavras

Pelo fim da cachorrada

Escrito por Rose Carreiro

Amo propagandas com cachorros; filmes com cachorros; Instagram de cachorros. Eu assisto aos episódios do Gabeira na Globo News porque sei que sempre vai ter cachorros. Por isso, diante da balbúrdia que anda a nossa civilização (ou falta dela), eu vim decretar: está proibido ofender usando o termo “cachorrada”.

Sou dessas pessoas que não pode ver um cachorro abanando o rabo, que o coração já derrete. Apesar de não ter um pet em casa atualmente, sou uma dog lover. Seja um vira-latas ou um golden retriever, se me der mole, lá estou eu fazendo um cafuné, pegando no colo, dando a mão pra cheirar. Amo propagandas com cachorros; filmes com cachorros; Instagram de cachorros. Eu assisto aos episódios do Gabeira na GloboNews porque sei que sempre vai ter cachorros. Por isso, diante da balbúrdia que anda a nossa civilização (ou falta dela), eu vim decretar: está proibido ofender usando o termo “cachorrada”.

Pobres dos cachorros, que estão sempre nos dando carinho, atenção, companhia e amor. Cachorros não mentem, não humilham ninguém pra se destacarem. Muitos cachorros até atravessam na faixa, e nunca vi um cachorro dirigindo pelo acostamento. Cachorros entendem o que a gente sente, nos reconhecem de longe, nos esperam na volta do trabalho. E se eles comem os chinelos ou a mobília da casa, é porque não podem ser perfeitos.

Cachorrada é você desejar que outras pessoas se ferrem, contanto que você seja beneficiado. Cachorrada é não se importar com quem passa necessidade, com quem depende de ajuda para sobreviver. Cachorrada é achar que quem é de outro gênero, raça ou crença, é menos digno de viver no seu meio. Cachorrada é se declarar religioso e desejar a morte, a doença ou o linchamento para os outros. Cachorrada é furar a fila, é sonegar, é querer levar de graça o que deu trabalho para outra pessoa produzir.

Cachorrada é olhar pra outro ser humano e julgá-lo como inferior porque não teve as mesmas oportunidades que você. É querer ganhar às custas do prejuízo alheio. É explorar mão-de-obra. É manipular os sentimentos das outras pessoas. É fingir pela fama, enganar pelo dinheiro.

Cachorrada é usar o santo nome “cachorro” em vão pra falar de alguma falcatrua. Nós, humanos, nos achamos tão superiores e estamos aqui acabando com a nossa e com as outras raças, sugando nosso planeta e destruindo a nossa dignidade em ofensas e agressões diárias. Então, se for pra colocar a mão na consciência e adaptar os termos às atitudes, cachorrada a partir de agora deve ser chamada de humanada. E tenho dito.

Créditos da imagem: jannoon028 / Freepik

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.