Uma coisa na qual me pego pensando com frequência é no quanto, muitas vezes, nos acomodamos com a sensação do “normal”. À parte das discussões de velho normal ou “novo normal” (como está na moda dizer agora), quero falar da normalidade em sentido amplo mesmo.
Percebo que existe um certo comodismo acerca do que é considerado normal e que, muitas vezes, as pessoas confundem “ser normal” com “ser correto”.
Se pararmos pra pensar, muitas coisas que abominamos hoje – como a escravidão, por exemplo – já foram consideradas normais. Será que se ninguém questionasse, se indignasse, lutasse contra, a gente teria evoluído como sociedade? Daí a importância dos chatos problematizadores.
Sei que estamos todos exaustos e às vezes a sensação é de que esta é a pior época para se estar vivos, mas, acreditem: não é.
Já foi normal o marido ter o direito de agredir a esposa. Ou de matar por “honra”. Já foi normal promover guerras por causa de religião. Já foi normal queimar gente na fogueira. Tanta coisa absurda já foi normal e, felizmente, hoje não é mais.
Mas ainda tem muita coisa “normal” que fazemos hoje em dia e espero que um dia deixe de ser.
Ainda é normal beber e dirigir – ainda que seja ilegal, pra muita gente é normal. Ainda é normal as mulheres serem sobrecarregadas com as tarefas domésticas e com os cuidados com as crianças – não é correto, mas é normal. Ainda é normal negros terem menos oportunidades no mercado de trabalho – é abominável, mas é normal.
Por isso que muito me incomoda quando, ao questionarmos alguma situação, alguém responder que “isso é o normal”. Pois é, tem muita coisa que é normal, mas não deveria ser. Tem muita coisa que é normal, mas é surreal.
Vamos desnormalizar o normal.
[…] essas – e outras – esquisitices e falhas de caráter são, em maior ou menor grau, normais. Todo mundo, bem lá no seu íntimo, tem as […]
[…] Se você consegue enxergar um palmo à frente de sua máscara, você precisa se manter indignado. Naturalizar […]