Para além dos sentidos políticos, históricos ou econômicos que circundam o Dia Internacional da Mulher, há também um componente afetivo nesta data. Pessoas bem intencionadas inocentemente nos oferecem flores, chocolates ou nos dão os parabéns.
Eu não sou da turma que vai recusar um carinho e dizer “não me dê flores, me dê respeito”. É claro que eu quero respeito, mas eu aceito as flores de bom grado.
Mas, pelo que merecemos os parabéns? Pelo que nos admiram?
Incomoda-me muito o clichê publicitário de mulheres guerreiras, multitarefas, verdadeiras fortalezas endeusadas que dão conta de tudo e, ainda por cima, são lindas, motivadas e alegres. Me irrito profundamente com este ideal que nos impelem a seguir.
Eu gostaria, mesmo, neste Dia Internacional da Mulher, de ser vista – e respeitada – apenas pelo que eu sou. E o que sou eu?
Eu sou, nada mais, nada menos, que todas as outras mulheres que conheço: um ser em desconstrução e reconstrução, num processo diário de luta pelo autoconhecimento e autoaprimoramento. Seja no campo afetivo, profissional, pessoal, intelectual, mental, corporal. Em qualquer aspecto que você queira escolher, pode ter certeza de que eu estou apenas tentando me entender e melhorar.
Eu, sua mãe, sua irmã, sua amiga, sua namorada, sua chefe. Qualquer uma de nós – e todas nós – está apenas e tão somente passando pelos mesmos processos que quaisquer outras pessoas neste mundo cão. Só que com uma carga desproporcional.
Não desejamos ser vistas como inabaláveis, como inquebráveis, como super-heroínas do cotidiano, como pontos de referência multitarefas e multitalentos. Ainda que, de certa forma, sejamos tudo isso, não é esse que almejamos ser nosso papel.
Nós estamos, apenas, tentando nos livrar das pressões estéticas, das cobranças infindáveis, das múltiplas missões impossíveis.
Então, quando olhar para uma mulher, não somente hoje, mas todos os dias, tente enxergar através de seus papéis de gênero. Tente compreendê-la como alguém que não é incrível por ser uma supermãe, ou uma excelente profissional, ou uma esposa dedicada, ou uma impecável dona de casa. Busque perceber que ela é tudo isso apesar de todo o resto. Que não queremos ser revestidas de um embrulho diferenciado por termos um cromossomo X extra.
Não queremos nenhum privilégio. Queremos apenas a tal equidade que tanto nos tem sido negada, e queremos ter o direito de quebrar, sim. Queremos e precisamos ter o direito de chorar também – não como um sintoma de fraqueza, mas como um sinal de humanidade.
Ao oferecer rosas ou chocolates, ou ao parabenizar uma mulher, destacando suas incríveis contribuições, lembre-se: ela não é uma guerreira porque quer. Ela o é porque precisa ser. Antes de mais nada, tente enxergá-la como um ser humano, complexo e imperfeito, e que também precisa de ajuda. Assim como você. E eu.
[…] assim como eu respeito a vontade dos outros, gostaria de ter o meu desejo de não ser mãe respeitado. Todavia, há quem entre nesse ciclo vicioso de “cobrar filhos” dos amigos e familiares. Não […]