Conjunções adversativas são conjunções coordenativas que expressam oposição. As conjunções coordenativas adversativas ligam duas orações em que a segunda oração expressa o contraste da ideia iniciada na primeira oração.
Quê?
Calma, vamos falar de forma simples.
Comecei com esta explicação gramatical apenas para contar um causo do qual nunca mais me esqueci, ocorrido lá nos idos do começo do milênio, quando eu ainda estava na escola. Fizera eu uma redação – uma dissertação, para ser mais exata – e cometi o erro banal de iniciar o último parágrafo do texto com um “Contudo”. A dissertação, vocês sabem, tem uma estrutura bem rígida: introdução, desenvolvimento e conclusão. O último parágrafo, portanto, serve para você dizer, resumidamente, o que você conclui – óbvio, né? – com aquelas ideias expostas ao longo do texto.
Eis que, minha professora, ao corrigir a prova, me tirou alguns pontos e escreveu à caneta vermelha: “‘Contudo’ é conjunção adversativa, e não conclusiva”. Lição aprendida e registrada.
Portanto – essa é uma conjunção conclusiva, vejam só – aprendi que, quando estamos escrevendo alguma coisa, precisamos chegar a algum lugar, e não apenas soltar um monte de ideias e informações aleatórias e desconexas no texto. Coerência, coesão etc. e o final precisa amarrar esses pontos e encerrar a ideia. Nem sempre é fácil.
Mas – olha a conjunção adversativa aí! -, como chegarmos a alguma conclusão, certeira e definitiva, num momento caótico como o que estamos vivendo?
Todos os dias, eu levanto pela manhã, faço minha rotina certinha, e começo a trabalhar – mas, com que perspectiva de futuro?
Leio as notícias diligentemente, buscando manter-me informada sobre os assuntos principais que interferem na nossa vida – porém, quanto mais me informo, mais desolada e desiludida eu fico.
Busco me alimentar corretamente (nem sempre, sejamos honestos), praticar exercícios físicos e cuidar da saúde mental – ainda assim, psicologicamente me sinto em frangalhos.
Aproveito todo e qualquer tempo livre para estudar, me aprimorar, tentar evoluir – todavia, evoluir para onde? Em que cenário? Haverá país ainda para que eu possa aplicar estes novos conhecimentos?
Mantenho o isolamento social, uso máscara sempre que preciso sair, higienizo tudo com álcool o tempo todo – contudo, estou assistindo, passivamente, o Brasil perder já mais de três mil vidas por dia.
Tento meditar, orar, manter o pensamento positivo, buscando subterfúgios para não surtar (mais) – no entanto, diariamente recebo notícias de pessoas cada vez mais próximas que adoeceram ou morreram de covid-19.
Estou exausta após mais de um ano trancada em casa, não aguento mais ouvir falar em lockdown – entretanto, sei que não existe absolutamente nada além disso que possamos fazer, para tentar ao menos aliviar o colapso já instalado em nosso sistema de saúde.
Já perdi as estribeiras, o fôlego, a esperança, e até a vontade de viver – não obstante, persisto e persigo o que recomendam o bom senso, a empatia e as boas práticas preconizadas pela ciência.
Como vocês podem ver, este é um momento em que praticamente nenhuma frase nossa pode ser concluída sem ser contraposta por uma conjunção adversativa.
Apesar de tudo isso, vou invocar a licença poética e me desculpar com minha professora do colegial, e encerrar este texto com esta conjunção adversativa, e as palavras de Chico Buarque: amanhã há de ser outro dia.