Pensamentos crônicos Tempestade de Cérebros

Precisamos falar sobre (in)fidelidade

Escrito por Alexander Fontes

O problema não está na infidelidade. Está na forma como são definidas as “regras do jogo” nos relacionamentos.

Analisando a dinâmica dos relacionamentos hoje em dia, percebe-se que a traição transformou-se em algo trivial. Eu diria até banal. Mas, examinando bem friamente, deixando a emoção de lado, a infidelidade não é o maior dos obstáculos.

O problema da infidelidade não está no ato da traição em si, mas no fato de que algumas pessoas simplesmente não nasceram para um relacionamento monogâmico. Em suma: ser infiel não é o mais errado; o errado é enganar, iludir, mentir. O errado é você não ver a fidelidade como algo fundamental para o seu relacionamento, mas escolher relacionar-se com uma pessoa para a qual isso é extremamente importante e imprescindível.

É aí que começam os conflitos dos casais: quando um vê a vida de forma diferente do outro, mas ignoram essas diferenças e resolvem entrar em um relacionamento, com todas as complicações que ele traz. Eu sou homem e tenho muitos amigos homens; mas, tive a sorte de crescer rodeado de mulheres. Graças a isso, aprendi muito sobre o universo feminino.

Via de regra (sim, lógico que existem exceções), a mulher tem mais dificuldades em trair. Para a imensa maioria dos homens, trair é tão simples quanto trocar de roupas. Já a mulher entra em uma crise íntima quando se sente atraída por outro homem. Isso se deve à forma machista como elas foram educadas na sociedade. Por muito tempo, foi-lhes negada a sexualidade e elas foram obrigadas a ignorar o desejo. Tanto que, para grande parte das mulheres, o sexo está intimamente relacionado com afeto, enquanto que a maioria dos homens separa isso de forma muito objetiva. Ou seja, normalmente, para um homem, o fato dele sentir-se sexualmente atraído por outra mulher não significa que ele não ame mais sua parceira; agora, se a mulher sente-se atraída por outro homem, é comum que ela comece a questionar o seu amor.

Mas voltemos à infidelidade. São muitas as causas que levam alguém a trair e a mais comum delas é: a pessoa não está tendo tanto sexo quanto gostaria (no caso dos homens) ou não está tendo atenção e carinho como gostaria (geralmente ocorre com mulheres). Mas essa não é a única causa. Há situações em que a mulher é muito ativa sexualmente no relacionamento e, mesmo assim, acaba levando um par de chifres; há casos em que o sujeito é tão insuportavelmente chato, que a camarada só quer uma rota de fuga; há ocasiões em que o relacionamento está “mais pra lá do que pra cá” e uma das partes tenta chamar a atenção da outra, provocando uma crise para ser superada e então restabelecer o laço entre o casal.

Existem, também, os acidentes de percurso: aquela escorregada básica que o cidadão deu, sabe que errou e não voltará a cometer o mesmo erro. Agora, vamos combinar que, quando acontece mais de uma vez (muitas vezes é mantido um relacionamento paralelo com a outra pessoa), não é mais acidente de percurso, né? O nome disso é “filhadaputagem”.

E, infelizmente, há aqueles casos em que o relacionamento está ótimo, o sexo é maravilhoso e, mesmo assim, um dois dois trai. Várias e várias vezes. Consecutivas vezes. Inúmeras vezes. Mente, ilude, machuca. Aí já estamos em outro campo da infidelidade, que é o(a) “traidor(a) compulsivo(a)”. Aquela pessoa que, não importa o quão maravilhosa(o) seja sua/seu parceira(o) e seu relacionamento, ela vai achar uma forma de trair. Como diria Carlos Heitor Cony: “A traição tem caminhos e todo mundo ajuda todo mundo nesta hora”.

Não existe motivo. O traidor compulsivo não precisa de motivos, a infidelidade está na sua natureza. Essas pessoas existem e, acreditem, elas sofrem com essa sociedade monogâmica opressora, pois simplesmente não conseguem ser de outra forma e são obrigadas a lutar contra a sua natureza. Elas sentem-se culpadas depois, juram que nunca mais farão novamente, mas… quando menos esperam, estão na cama com alguém de fora da relação. Existem pessoas que simplesmente não se encaixam nesse modelo de relacionamento. Elas amam, mas não nasceram para a monogamia.

Agora, volto àquilo que disse lá no início do texto: ser infiel não é um problema. O problema é ser assim, mas querer relacionar-se com uma pessoa extremamente monogâmica e que considera a monogamia a base da união. Se não é possível mudar sua natureza, mude os critérios de escolha de seus pares. Encontre uma pessoa que o(a) ame exatamente da forma como você é e seja feliz nas puladas de cerca da vida. Não deve ser tão difícil assim. É só jogar limpo. Você precisa, basicamente, de alguém que não surte por causa de algumas transas fora da relação, além de ter a cabeça aberta também, pois o que vale para você, tem que valer para o outro, certo? Essa é uma via de mão dupla: olho por olho, chifre por chifre. (Porque tem muito machão aí que dá suas escapadas por fora, mas quer que a mulher seja só dele – estamos de olho!)

“Faça o que eu digo; não faça o que eu faço”. Estou aqui aconselhando como uma pessoa infiel deveria levar seu relacionamento, mas eu sou um romântico monogâmico incorrigível. Admito que esse modelo de amor moderno simplesmente não é pra mim (por isso, busco parceiras que entendam e concordem com isso). Mas confesso que admiro a maturidade de casais que optaram por ter um relacionamento aberto e, assim, encontraram uma forma de salvar seus casamentos, afinal, não existe fórmula. Quem disse que a fidelidade é o único segredo para a felicidade a dois?

Isso sem mencionar que infidelidade é diferente de deslealdade – dizem. Até porque, se ela é consentida, pode ser considerada traição? Fica o questionamento.

Sobre o autor

Alexander Fontes

Pai de família com alma de poeta.
Simplesmente um cara que gosta de escrever e observar o cotidiano, sempre em busca de experiências antropológicas.
Um grande admirador do universo feminino.