Desacato

A tal da hipocrisia

Escrito por Nathalia Karl

Pois bem, se existe uma certeza crescente nessa passagem terrestre, é a de que as coisas não são aquilo que realmente aparentam ser.

Precisamos conversar sobre essa tal de hipocrisia – que deriva do latim e do grego, e significa ato ou efeito de dissimular os verdadeiros sentimentos e intenções -, antigamente representada através do uso de máscaras nas peças teatrais, e até hoje comumente utilizada por meio de máscaras invisíveis, popularmente o que assim consagrou o grande Mestre Nelson Rodrigues de “A vida como ela é…”

Pois bem, se existe uma certeza crescente nessa passagem terrestre, é a de que as coisas não são aquilo que realmente aparentam ser. Inclusive, pensando nisso, é que a cada dia reforço a minha tese entoando em tom de mantra sobre mim mesma que “Nathália Karl é uma vítima de suas próprias frases mal alinhavadas, que lhe rendem um retrato falado que não corresponde à realidade”.

De fato, a cada nova constatação, tenho certeza de que melhor definição e explicação de mim mesma não poderia ter sido escolhida. Foi, é e sempre será acertada em cada letra e conjugação verbal.

joanjettAliás, falo de hipocrisia pois escutei recentemente que tenho a fama de “safadinha”, e na impossibilidade técnica de explicar toda a dinâmica e abrangência de significado desta palavra – que ainda tem um diminutivo que mais tenta deixar despretensiosa a essência de equivocada questão -, é que com convicção de especialista observo o tamanho da hipocrisia alheia, seja ela de quem fala, de quem assim entende, e de quem toma para si a questão como um predicativo do sujeito.

Desde 1984, quando aqui aportei para desbravar céus, mares, continentes e corações, me dou conta de ser uma pessoa alegre, sorridente, brincalhona, e com o passar dos tempos, me tornei ainda mais uma pessoa que gosta de fazer as outras rirem.

Fato é que, na maioria das vezes, só a sacanagem salva. Eu me tornei sacana, eu sou sacana! Sim, eu não tenho problema em assumir as obscenidades que falo, faço e propago por meios diversos nas rodinhas de parentes e amigos. Alguns deles têm consciência do quão realizada e feliz é a minha vida, sexual, inclusive. Não há frustrações e medos que não foram devidamente superados das mazelas do preconceito.

Então, isso é ser safadinha, e se isso for mesmo ser “safadinha”, meu amor, então eu sou mais que Wesley, eu sou SAFADÉRRIMA! E já deixo consignado que hei de morrer assim. Com a dignidade e consciência de saber que sou uma menina, mãe, mulher, amiga, tão comum e repleta de defeitos de fábrica, bem como de qualidades mil, como por exemplo, o maior porta malas da categoria.

Tenho predileção por ser de verdade, admiro quem também é, insisto em ser assim dentro da minha sinceridade, por muitas vezes interpretada de forma imbecil, mas o único soro antiofídico que conheço é seguir me expondo para dar a oportunidade de muitos me conhecerem, e conviverem comigo e sondarem intimamente as suas consciências para quebrarem seus estigmas e assombrações ao meu respeito.

O que acho verdadeiramente muito triste e me causa comiseração são as pessoas que em pleno século vinte e um querem se passar por imaculadas o todo tempo, encubando desejos, mesmo que sejam os mais tolos como soltarem um palavrão no meio de um papo casual, impedindo que suas verdadeiras personalidades se mostrem em um mundo como esse nosso onde tudo é efêmero e passageiro.

Portanto, me colocando hoje na roda de fogo, quase que abrindo esse meu nobre coração vagabundo, me dou a liberdade de te deixar uma mensagem praticamente de amor: Seja tudo, inclusive “safadinha” como eu, safadão como o Wesley, seja algo edificante e agregador, menos hipócrita. Olhe para si, se você gostar do que está vendo, continue, que você está no caminho certo, mas se não gostar, reveja-se, repense-se, liberte-se. De você.

Sobre o autor

Nathalia Karl

Nathália é uma vítima de suas próprias frases mal alinhavadas que lhe rendem um retrato falado que não corresponde a realidade.
Está lançado o desafio: Se não gostarem, processem-me.