Pensamentos crônicos

O melhor lugar para se esconder da vida

Escrito por Brunno Lopez

Tudo é vazio demais à tarde, é como uma madrugada em horário comercial. As pessoas imersas em trabalhos que não amam deixam um espaço enorme para outras que escolheram viver. Procuram histórias dentro de livros novos que as façam escrever outros passados, daqueles que vale a pena parar pra se lembrar.

Tantos superestimam a noite e os finais de semana como uma salvação finita para a rotina ensaiada do calendário, que deixam de perceber as notáveis experiências reais escondidas dentro do combo ‘segunda a sexta’.

E não estou falando de tentar acordar antes do sol e transpirar antes do sereno matinal.

Já reparou que aquelas pausas pra qualquer tipo de alimentação indulgente são tão revigorantes quanto férias planejadas?

Mas tal sensação não se dá em qualquer período.

Tudo é vazio demais à tarde, é como uma madrugada em horário comercial. As pessoas imersas em trabalhos que não amam deixam um espaço enorme para outras que escolheram viver. Procuram histórias dentro de livros novos que as façam escrever outros passados, daqueles que vale a pena parar pra se lembrar.

É a deixa pra você abandonar qualquer locação corporativa e esgueirar-se pelas ruas até o ambiente mais acolhedor que existe depois de uma igreja ou uma pizzaria.

Não sou um grande fã de café, mas a atmosfera de uma cafeteria no período vespertino é mais irresistível que uma caixa de bombons só de chocolate branco.

Você se acomoda calmamente naqueles sofás confortáveis, acolchoados como um abraço de quem acaba de chegar de viagem. Nos distraímos com o formato bonito das luminárias, os desenhos dos quadros dispostos meticulosamente.

O cardápio é praticamente uma literatura de opções. Quase que sentimos o cheiro e o gosto do que ainda sequer pedimos.

A paz que nenhuma bandeira branca pode trazer mora aqui dentro.
No recostar de cabeça na janela, enquanto o garçom foi-se embora para a cozinha, e perdemos o olhar na rua carregada de pressa e buzinas.

É uma segunda, ou uma quinta. Ou quem sabe uma daquelas quartas-feiras onde as horas são mais preguiçosas que um funcionário de repartição pública. Não importa.

O portal para alguns minutos de felicidade está num desses cafés quase vazios de seres humanos mas completamente abarrotados de inspiração.

Quando a conta chegar, você nem vai reclamar de pagar.
Pelo contrário. Ela é uma prova de que você fez algo pela sua própria vida.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.