Sem meias palavras

Coach de Charlie é Romeo

Escrito por Thigu Soares

A picaretagem institucionalizada do coaching é um dos maiores casos de exploração do desespero e da crença das pessoas.

Nova onda dos últimos anos, “profissão” fancy, hype do momento corporativo e social, o “coach” reúne todos os atributos mais equivocados que já fomos capazes de produzir. A existência do coach supera e eclipsa – até com certa folga – os empreendedores de palco.
 
Ainda que possamos compreender a falsidade do empreendedor que jamais fez nada sob um CNPJ, o coach vai além. Sacanagem pouca seria imaginar que alguém que nunca empreendeu pudesse te dizer como fazê-lo, e pudesse migrar o discurso cara dura para outras áreas de atuação. A pilantragem realmente parece não ter limites. Discursos vazios, mas motivadores e fortes! Palavras de incentivo e cobrança na dosagem e no momento certo. Tudo tão embalado quanto um comercial das lendárias facas Gynsu.
 
Surgindo da dor dos outros, o coaching virou uma muleta para todos aqueles que buscam conforto, motivação, alento ou algum tipo de esperança na mudança. O clima neopentecostal de seus reclames sempre impressiona. Metodologias “próprias”, reprogramações milagrosas, e tudo em tempo recorde. Algo que envolve o furor de uma igreja caça-níquel com a promessa imediatista de uma mãe de santo que traz a pessoa amada em 3 dias.
 
Assim como a exploração da fé alheia, essa categoria de aproveitadores profissionais se estabelece pela necessidade e pelo desespero. OK, por vezes por capricho, é bem verdade, mas na maioria das vezes, as pessoas creem estar buscando ajuda especializada. As consultorias pessoais incluem segmentos diversos: finanças, emagrecimento, economia doméstica, beleza, físico, infantil e até mesmo (PASMEM) oncológico. Conceitos como o coaching ultrapassam o limite do bom senso de mercado, da oportunidade, da lei da oferta e da demanda. Criaram um mercado irregular de exploração da necessidade alheia. Uma verdadeira pirâmide motivacional sem muito sentido, que agora consome o dinheiro suado de muita gente em desespero.
 
Existe a possibilidade de um coaching ser sério? Claro, estou certo que sim. Estes pecam por omissão, pois deveriam ser os primeiros a denunciarem com estardalhaço a vulgarização da profissão. Meus instintos liberais não me permitem concordar com a proibição da atividade. As pessoas são livres para tomarem suas decisões, e devem ser cada vez mais. Só não esperem que eu vá achar que um coach será a pedra de salvação de alguém. Coach de cu é rola!

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.