Pensamentos crônicos

Ser adulto cansa

Escrito por Patrícia Librenz

Para as crianças que querem crescer logo, fica aqui o aviso: ser adulto cansa.

Crianças e adolescentes anseiam por crescer logo. Aquele clássico da Sessão da Tarde com Tom Hanks mostra um pouco desse imaginário infantil acerca da vida adulta. Mal sabem eles que ser adulto significa, basicamente, passar raiva e pagar boletos.

Ser adulto, contudo, não tem muito ver com a idade, e sim com responsabilidade. Tem muito moleque por aí escondido atrás de uma fisionomia madura. Também não é sobre ter independência financeira, pois não é o dinheiro que define as pessoas, e sim o que elas fazem com ele. 

Existe, ainda, o mito da pessoa que mora sozinha. Nada é tão superestimado na sociedade contemporânea quanto o jovem que sai da casa dos pais. Esse exemplar moderno de pseudoadulto, cada vez mais comum, muitas vezes até trabalha, mas seu dinheiro é usado para diversão, e não para pagar contas ou as compras no supermercado. O pseudoadulto mora sozinho, trabalha, ostenta um certo status de independência e autossuficiência, mas no fundo ainda é bancado pelos pais. Contudo, o oposto também é verdadeiro: existe o adulto que mora na casa dos pais numa relação de simbiose, e não de dependência/parasita.

Existe, ainda, o adulto-raiz. A maioria da população adulta (suponho). O adulto-raiz reclama por ter que pagar boletos e fica feliz quando encontra uma boa promoção de produtos de limpeza. Mas nada mais genuíno do que um adulto que quer voltar a ser criança. Lembra como você reclamava por ter que estudar e ir para a escola? Esse tempo que era bom! Que saudades de ter só a obrigação de estudar e, de vez em quando, secar uma louça… agora a gente precisa trabalhar, estudar, limpar uma casa inteira e, se quisermos comida, temos que cozinhar.

Resumindo: ser adulto é muito difícil e cansativo. Enquanto algumas crianças sonham em estar no nosso lugar, tem dias que eu só queria voltar a ser criança de novo, e poder – nem que fosse por um único dia -, aproveitar os prazeres de uma vida sem nenhuma responsabilidade.

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.