Eram umas 5h da manhã quando ela foi acordada pelo marido:
_ Amor, vamos! Está na hora.
Só passou uma água no rosto e saiu de pijama mesmo. O caminho para o aeroporto era longo. Chegando lá, despediram-se:
_ Boa prova! Mande mensagem quando chegar.
Sonolenta, ela sentou-se ao volante e voltou dirigindo para casa. Entrou no prédio, manobrou o carro, chamou o elevador. Ela não via a hora de deitar em sua cama e voltar a dormir. Chegando ao oitavo andar, deparou-se com a porta trancada! O marido trancou a porta. Ela não levou suas chaves junto, porque nem se preocuparia em trancar o apartamento naquele horário, sendo que logo iria voltar.
Desceu até a portaria e perguntou se, por algum acaso, a diarista não havia deixado a cópia das chaves na lá na semana anterior. Não havia nada. A diarista, que deveria ter vindo um dia antes, além de não dar nenhuma satisfação, levou consigo as chaves. O porteiro se ofereceu para ligar para um chaveiro de plantão. O chaveiro disse que chegaria só depois das 7h. Não havia outra opção, senão aguardar. Já se passavam das 6h da manhã mesmo; então, ela ficou ali sentada esperando. De pijama.
Quando o chaveiro chegou, foram até o elevador. Ele reparou nos trajes da mulher e perguntou:
_ Ficou trancada pra fora?
_ Sim, meu marido foi viajar… fui levá-lo ao aeroporto, ele trancou o apartamento e acabou ficando com as chaves…
Chegando ao apartamento, o homem destrancou a porta em questão de segundos. Ela foi até o quarto pegar sua bolsa para pagar pelo serviço e ele ficou esperando na sala. Pagou, o rapaz foi embora, ela trancou a casa e pensou: “Finalmente vou poder deitar na minha cama e dormir em paz!”
Quando estava lá, aninhada, bem gostosinho, ouviu um barulho de chave na fechadura da sala e, em seguida, a porta se abrindo. O coração lhe veio à boca. A mulher pensou: “É o chaveiro! Meu deus do céu, por que eu fui contar pra ele que meu marido estava viajando? Agora ele sabe que estou sozinha, não deixou nem sinal de arrombamento e vai fazer sabe lá Deus o que comigo!”.
Por um momento, pensou em trancar-se no quarto enquanto chamava ajuda. Mas seria inútil – o homem era chaveiro. A primeira coisa que lhe ocorreu foi se defender. No cofre, dentro do armário, havia uma arma. Devido à exposição do trabalho, o marido tinha porte. Eram cidadãos de bem, só tinham uma arma em casa para defenderem-se de invasores. Era chegada a hora de fazer jus ao porte de arma. Ela, que aprendeu a manusear a pistola, carregou-a e já deixou engatilhada.
Abriu a porta do quarto devagar para não fazer barulho… o invasor estava na cozinha, ela podia ouvir alguém vasculhando a gaveta dos talheres – procurando por uma faca, possivelmente. Pé por pé, andou até lá. O coração estava a mil… tomada pelo desespero, com a arma em punho e apontando para o alvo, não hesitou nem por um segundo: atirou.
Ela ouviu o barulho do corpo caindo no chão. O tiro e os instintos foram mais rápidos do que seus sentidos – primeiro, atirou; depois, viu. O pânico a cegou. Ainda ofegante, ela ligou para o 193:
_ Eu preciso de uma ambulância, rápido! Acabei de atirar na minha diarista por engano!