Um chiado no ar. Mosca. Nada seria mais divertido do que uma implacável perseguição aos insetos que insistiam em rodear. Repentinamente, perdeu o interesse. Ouviu passos no corredor. Sentiu um cheiro novo, meio doce, ficou perdida em seus pensamentos. Quem seria? Deveria emitir algum som?
Os passos entraram pela porta. É, não era nada. Ela resolveu caminhar um pouco. Encontrou uma flor, despedaçada, triste como o dia nublado em que se encontrava. Pisou, terminando de esmagar o néctar que já não existia. Podia comer aquela flor inteira, mas estava sem fome.
– Correio.
A fúria corroeu seus olhos. Queria arrancar os braços daquele homem de amarelo. Onde já se viu atrapalhar seus devaneios primaveris? Quem ele pensava que era pra se vestir como gema de ovo e sugar toda a sua atenção? Os passos retornaram e mãos saíram carregadas de correspondências, portão afora. Ela iria ficar mais uns quarenta minutos sem ter com quem falar.
Droga! Deu meia-volta, entrou em sua casa, deitou-se sobre a colcha xadrez. Tinha um coelho ali, levemente despedaçado. Não quis fazer nada com ele. Estava cansada de todos os sons. Passos, gritos, destruições. O tédio dominou seu pequeno corpo. Como em um transe de meditação, dormiu. Alheia aos carros e crianças que cruzaram pela calçada, só acordou com um erguer assombrado de orelhas, ouvindo a voz que mais conhecia:
– Vem comer, Aretha, vem!