Sérgio nasceu em uma família tradicional do Leblon no Rio de Janeiro.
Desde criança, sempre reclamou de tudo.
“Ai… essa água do mar está muito fria”.
“Esse salgado aqui tá muito sem gosto”
“Essas rodinhas da bicicleta estão me atrapalhando mais do que me ajudando”.
Ele era uma criança insuportável.
Quase não tinha amigos.
“Eu não preciso de amigos, eles são muito infantis”, ele dizia ainda na segunda série.
Ele reclamava da voz dos professores, da qualidade das ilustrações dos livros didáticos e tudo que você possa imaginar.
Ele não gostava de nada. Tudo tinha defeito.
Menos ele.
Apesar de ser chato, ele era uma pessoa correta. Falava na cara o que pensava, mas não passava por cima de ninguém.
Estudou Jornalismo e criticava até a ética profissional.
Ele se considerava um questionador, mas seus colegas de universidade o achavam um puta cuzão.
Nunca ligou. Ele era autossuficiente.
A única coisa que ele gostava era de música.
Mas ele passava dos limites.
Não virou músico, porque não gostava de praticar. Reclamava até disso.
Mas adorava ouvir música.
Ficou conhecido como o crítico musical mais ácido do maior jornal do país.
Falava mal de tudo. Até pra elogiar, dava uma alfinetada.
Seu Twitter era movimentado.
Qualquer tuíte seu tinha mais de 500 respostas de gente reclamando das reclamações dele.
Ele achava muito mais fácil detestar o que as pessoas gostavam do que gostar do que as pessoas não gostavam.
Um belo dia, fez um exame e descobriu um câncer no estômago.
Começou o tratamento e parou de reclamar.
Depois de 6 meses, escreveu pela primeira vez uma crítica elogiando o trabalho de uma nova cantora brasileira.
Naquele dia, recebeu um único reply no tuíte da sua crítica.
“Obrigado por gostar e entender o meu trabalho. Tudo de bom”, respondeu a própria cantora.
Na semana seguinte, Sérgio foi fazer outro exame para saber como estava sua saúde.
O médico lhe deu a melhor notícia do ano. Ele estava curado.
Sérgio olhou para o médico e disse: “incrível o poder da palavra”.