Relatório de Evidências

Vida de Gato

Escrito por Guilherme Alves

Êêêê ôôôô vida de gato. Povo malhado. Povo feliz!

É muito bom ser gato. A gente acorda de manhã, come um pouquinho, bebe um pouquinho, e pode dormir de novo. Aí acorda, dá uma espreguiçada, derruba alguma coisa da estante e pode dormir de novo. Aí acorda, mia atrás de comida, e pode dormir de novo. Aí chega a noite, a parte que eu mais gosto. Posso correr, posso miar, apronto mesmo. Pena que tem umas pessoas na minha casa que ainda não entenderam que essa é a ordem natural das coisas, e querem dormir logo de noite, ora vejam só.

Aliás, a única coisa que eu não entendo muito bem são essas pessoas que moram na minha casa. Assim, não me leve a mal, é bom ter alguém pra colocar a ração no meu potinho – o que eu totalmente poderia fazer sozinho, mas não estou a fim – e é sempre bom ganhar um carinho, mas tem horas em que fico perplexo. Outro dia, por exemplo, fui pedir um carinho quando um deles estava sentado, sem fazer nada, só olhando pra um quadrado aceso e mexendo as mãos muito rápido numa coisa que fazia barulho. Ora, todo mundo sabe que a gente coloca as mãos em cima da luz, não numa coisa preta cheia de rabiscos que tem embaixo dela, mas enfim. Fui enxotado só porque subi na tal coisa. E ele ainda fez uns miados que eu não entendi nada! Nem miar direito sabem!

Em compensação, quando eles estão sentados no afiador de unhas é só alegria. Me aninho, me aconchego, ganho carinho à vontade. Só não gostam que eu use o afiador, pasmem, para afiar as unhas. Ora, bolas, vou usar pra quê então?

Um dia eu vou conseguir educá-los. Não está sendo fácil, parece que não nasceram para serem adestrados. Mas um dia eles vão entender que a gente dorme durante o dia, brinca durante a noite, dá carinho sempre que pode e só faz o que dá vontade. Porque é assim que nós gatos somos desde o início dos tempos. E, se tem dado certo até agora, pra que eu vou querer mudar?

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

2 comentários

    • Que bom que você gostou, Paulinha! O Chico é assim mesmo, bem na dele, de repente enlouquece. E nunca entende o que eu estou miando pra ele.

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