Sem meias palavras

Prioridades, não é mesmo?

Escrito por Bruno Leo Ribeiro

Tudo na vida é questão de prioridade. As prioridades de Júlio não eram exatamente condizentes com sua classe social.

Júlio Cesar nasceu em uma família tradicionalíssima do Rio de Janeiro.

Frequentou as melhores escolas da cidade.

Seus privilégios eram muitos, mas ele vivia simples.

Só andava de táxi.

Gostava dos botecos mais sujos.

Fazia compras no centro da cidade.

Não viajava para o exterior, gostava de ir pro interior do Brasil.

Quem o conhecesse, nunca imaginaria que ele era riquíssimo.

E era tudo verdadeiro e de coração.

Claro que é bem mais fácil fingir simplicidade quando se é rico, do que viver como rico sendo pobre.

Mas ele queria viver e aprender.

Os filhos dos amigos dos seus pais e ex-colegas de escola faziam tudo juntos.

Iam para óperas e peças de teatro.

Frequentavam festas com cobertura de canais de TV.

Discutiam livros intelectuais em rodas de leitura.

Falavam sobre música erudita e de letras rebuscadas.

Viajavam o mundo e só passavam pelo subúrbio no caminho do aeroporto internacional.

Júlio não se sentia parte disso.

De vez em quando, era obrigado a participar dos aniversários da família com esses convidados que ele pouco gostava.

No aniversário do seu pai, resolveu entrar na roda de conversas de alguns vereadores do Rio de Janeiro.

Assim que chegou, ouviu, “Temos que ter força!”.

Júlio pensou, “Ufa! Aqui tem papo bom!”

Ele esperou sua vez e disse, “Sim! A luta é árdua! O governo precisa distribuir renda. Ando por esse Brasil todo e vejo esses problemas. Vocês precisam de força mesmo!”.

Um dos vereadores na roda era um ex-colegas de escola de Júlio.

O vereador olhou para ele, deu uma risada sem graça e disse:

“Júlio, a gente tá falando sobre a Globo ajudar o Flamengo.”

Sobre o autor

Bruno Leo Ribeiro

Diretor de arte por profissão, músico, produtor musical e compositor por teimosia. É host do podcast sobre música Silêncio no Estúdio e já escreveu um romance chamado “Todas as Cores: ascensão e queda de um publicitário”, publicado em 2017. Entre um e outro projeto, cria um novo projeto para ficar ocupado antes de criar um novo projeto. Curioso e dedicado, agora se aventura escrevendo seus deboches, personagens caricatos e suas observações do cotidiano. Mora em Helsinki na Finlândia desde 2011 e diz que seu melhor trabalho, foi a co-produção de dois adoráveis seres humanos.

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