Relatório de Evidências Sem meias palavras

Retrocesso 2019

Escrito por Letícia Nascimento

2019 ganha fácil o prêmio de pior ano das nossas vidas. E, quando paramos para fazer uma retrospectiva, a situação do nosso país só nos faz pensar em retrocesso.

Estamos no momento de começar a fazer a retrospectiva de tudo. Trabalho, relacionamentos, metas e objetivos. Porém, quando se trata de Brasil, a retrospectiva está mais para retrocesso.

2019 tem sido um ano, digamos, angustiante. Dezembro deu as caras com gente acreditando, piamente, que a Terra é plana. E esse já é, por si só, um argumento tenebroso o suficiente para dizer que quem tem bom senso sofreu muito nos últimos meses.

No ano em que as fake news reverberadas deram brecha pra muita gente lunática aparecer na mídia – mais sensacionalista do que nunca – temos visto o horror a céu aberto e a cores, sem conseguir sair do lugar. 

A Amazônia pegou fogo, o mar paradisíaco do Nordeste se encheu de óleo, ONGs que atuam há décadas na proteção do meio ambiente foram atacadas, o desmatamento avançou e nossos alimentos nunca tiveram tantos novos agrotóxicos. 

Muitas mulheres pagaram com a vida o incentivo velado que seus companheiros (e exs) receberam com falas atrozes sobre porte de arma e lugar da mulher na sociedade. As minorias estão se sentindo mais desprotegidas a cada dia e notícias como: “Homem atira contra moradora de rua após ela pedir esmola” estão nos noticiários e são reais. 

Voltamos a ouvir os termos censura na arte, com intervenção policial em museu e filme produzido por brasileiros que não poderá ser exibido no país. A educação pública, que já respirava por aparelhos, está agora prestes a ser eutanasiada pela iniciativa privada, e sendo desrespeitada em todos os níveis por quem deveria protegê-la. Os direitos trabalhistas caindo por terra, um a um.

Nem quero entrar nas questões econômicas, de disputas de poder e a divisão tão simbólica que pairou sobre os brasileiros ainda mais este ano. É como se o ar estivesse dividido em dois e uma parte estivesse tão pesada, que só encontrando outras pessoas sensatas fosse possível respirar. 

Dezembro é sempre mês de relembrar, mas é muito triste saber que este ano nem acabou e já ficará marcado como um dos piores para existir nessas minhas três décadas de vida.

Já estive pior física, emocional e financeiramente, claro, mas falo como cidadã, como pessoa que tem consciência de classe, noção do que acontece ao redor e não consegue ficar presa à bolha que me cerca.

Tem sido muito difícil ser brasileira. E isso dói.

Sobre o autor

Letícia Nascimento

Jornalista por formação, redatora por rotina, roteirista de alma, deseja um dia ter a audácia de se intitular escritora. Ama bebês, cachorros e fofuras em geral. Cinéfila que assiste de tudo, viciada em séries e leitora apaixonada. Possui todos os distúrbios possíveis do sono, luta contra a ansiedade crônica e a fibromialgia com humor e acidez. Parece jovem mas joga gamão nas horas vagas.

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