Pensamentos crônicos

Evolução

Escrito por Mayara Godoy

Teoricamente, o homo sapiens é a espécie mais adaptável que habita o planeta Terra. Mas, será mesmo que atingimos um nível de maturidade social condizente?

A Teoria da Evolução, de Darwin, afirma – falando grosso modo – que os seres mais bem adaptados são aqueles que sobrevivem. Isso se aplica a todo e qualquer ser vivo que já habitou este planeta, e as espécies estão em mutação e evolução o tempo todo.

Mas o homo sapiens – ou, ser humano, como chamamos carinhosamente -, ao contrário de muitas outras espécies, é um ser à parte, que consegue se adaptar a quase qualquer ambiente. Felizmente (ou infelizmente) nós temos uma inteligência que, aplicada na forma de ciência e tecnologia, nos permite sobreviver mesmo em condições inóspitas.

É graças à nossa “genialidade” que o ser humano consegue sobreviver em ambientes muito frios, muito quentes, muito secos, muito úmidos, de baixa altitude, de alta altitude, e assim por diante. Com um razoável aparato habitacional, vestimentas e mais alguns apetrechos, a gente contorna as intempéries e se instala onde quer que seja necessário ou interessante. E hoje já habitamos boa parte dessa Terra.

Mas, apesar de nossa grande maleabilidade contra fatores climáticos e geográficos, é no campo da adaptação social que, ainda hoje, temos dificuldades. Em pleno ano de 2020 ainda parece ser mais fácil para o homo sapiens fazer pesquisa aeroespacial do que conviver com o seu semelhante, se este ousar ser só um pouquinho diferente.

Nós já caminhamos a passos largos rumo à consolidação da robótica, da nanotecnologia, da inteligência artificial, mas a nossa capacidade de raciocinar e lidar com situações tão simples, no nível mais primitivo de nosso ser, parece estar a cada dia menor.

Fazemos cálculos matemáticos ultracomplexos para projetar supercomputadores, descobrimos a prevenção e até a cura para doenças que há alguns séculos dizimavam populações, mas ainda temos dificuldade em aplicar aqueles aprendizados básicos que vêm lá da infância, como dizer as “palavrinhas mágicas”: com licença, por favor, obrigada. “Me desculpe”, então, parece estar acima da capacidade cognitiva da maioria esmagadora da população.

Desenvolvemos habilidades de fala e escrita, provando que nosso cérebro é capaz de uma quantidade inacreditável de aprendizados, agregando mais e mais conhecimento, dominando variados idiomas, mas temos um bloqueio quando se trata de ter uma conversa simples, na qual expomos nossos sentimentos e opiniões.

O poderio bélico presente no mundo hoje daria, tranquilamente, para destruir o planeta, e a cada dia parece que estamos mais perto desta possibilidade, pois mesmo os detentores dos mais importantes e poderosos cargos das mais proeminentes nações se comportam como crianças de três anos disputando uma peça de Lego.

É absurdamente paradoxal que, em pleno 2020, estejamos regredindo ao ponto de termos de explicar que, sim, índio também é ser humano; que, sim, homossexual também tem direitos; que, não, mulher não é inferior ao homem; que, não, não é elegante falar mal da aparência da esposa do coleguinha.

Às vezes eu me pergunto qual o sentido de estarmos aqui, há centenas de milhares de anos, consumindo recursos naturais, poluindo os rios, desmatando florestas, danificando a camada de ozônio, dizimando outras espécies, em nome de uma “evolução” social e tecnológica, do dito “progresso”, se, na prática, ainda nos comportamos exatamente como animais irracionais que digladiavam-se até a morte por um pedaço de carne e uns palmos a mais de território.

Acho que explicar a nossa “evolução” (ou seria involução?) será uma tarefa árdua para os cientistas atuais e futuros – se é que estes pobres coitados ainda sobreviverão por muito tempo diante deste trágico obscurantismo que tristemente estamos protagonizando. Sortudo é o Darwin, que já morreu.

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.

Comente! É grátis!