Dia desses, uma pessoa comentou que eu era muito diferente na vida real em comparação com o Facebook, porque eu uso “muito filtro nas fotos”.
É óbvio que, diante de tal afirmação, eu imediatamente fiquei muito chateada, né? Pensei: “nossa, eu devo ser muito feia na vida real”.
Mas, depois, me peguei refletindo sobre o que vem de pano de fundo numa frase como essas.
À parte da questão da foto em si – que eu acredito que, obviamente, todo mundo quer postar fotos em que se sentiu bem -, vocês já repararam que nós, mulheres, parecemos estar constantemente no banco dos réus?
A mulher, a sua vida toda, é julgada. E, sem direito a defesa, é automaticamente condenada.
É porque é muito magra. Ou muito gorda. Ou porque resolveu trabalhar fora em vez de cuidar da casa. Ou porque preferiu ser do lar. Ou porque priorizou a carreira em detrimento de ter filhos. Ou porque virou mãe e largou tudo.
Mulher está sempre tendo que dar satisfação. Se decidiu não se casar. Se casou e depois separou. Se pintou o cabelo de uma cor chamativa demais. Se usou uma roupa muito curta. Ou se foi sozinha pra balada.
Me peguei refletindo sobre isso e pensando: Caramba, por que ninguém faz um comentário tipo “Nossa, mas a Mayara escreve bem, né?”, ou “Que legal, a Mayara está sempre envolvida em vários projetos”, ou ainda, “A Mayara é uma ótima profissional, não é mesmo?” (substitua “a Mayara” por “a Joana”, “a Maria”, ou por qualquer nome que preferir)?
Não. O comentário é sempre, prioritariamente, sobre a nossa aparência. Não interessa se você estuda, trabalha, faz ação de caridade, cuida da sua família, se dedica a evoluir profissionalmente, ganhou um prêmio Nobel. Sempre, SEMPRE, em primeiro lugar, vão te julgar por ser bonita. Ou feia. Ou jovem demais. Ou velha demais. Ou whatever.
E é por causa de frases como estas – aparentemente inocentes – que as mulheres sofrem de bulimia, de anorexia, fazem dietas malucas para tentar chegar ao “peso ideal”, se submetem a procedimentos estéticos caros e doloridos, nunca se sentem bonitas o suficiente, competentes o suficiente, interessantes o suficiente…
Podem observar: é sempre um tal de “ah, Fulana é bonita, inteligente, interessante, mas é gordinha”, ou “Sicrana é culta, divertida, descolada, mas tem acne”, e daí por diante.
O nível de exigência do mundo para com as mulheres é sempre massacrante. As cobranças vêm de todos os lados – e as críticas, também. E o mais triste é que não é só o homem hétero (que tem grandessíssimas dificuldades em gostar de mulher, como bem sabemos) que diz essas coisas, não. Mulheres também sabem ser bem cruéis com as outras mulheres.
Enquanto ainda houver esse tipo de julgamento, ainda haverá uma mulher depressiva, desmotivada, com a autoestima destroçada, sentindo-se miseravelmente infeliz.
Enquanto as pessoas ainda nos criticarem, sempre, pela nossa aparência – desconsiderando totalmente nossas outras qualidades -, haverá uma mulher foda pra caralho chorando sozinha no chão do quarto sentindo-se uma merda.
Então, meu recado é: sempre que você pensar em fazer um comentário sobre a aparência de uma mulher, principalmente se este comentário puder fazê-la se sentir mal, cale a sua boquinha e não faça. Simples assim.
Eu, sinceramente, cansei de me sentir uma merda. Portanto, meça suas palavras, parça.
Maravilhosa, e se achar que deve por filtro nas fotos, põe. Mas nas palavras,nunca.