Sem meias palavras

Me deixa

Escrito por Rose Carreiro

Eu já conquistei muito pra ficar presa a tons de terra, pra ser nude, pra deixar o cabelo liso e imóvel. Tem que ser clássica, tem que ser clean, tem que ser fashion, tem que deixar a sombra verde pro Carnaval. Quem disse? Fico aqui esperando a Glorinha Khalil.

Romero BrittoHoje eu vou sair de Elke Maravilha. Hoje eu vou ser exagerada. Superlativa. Hoje eu vou ser over, e vou ser awesome. Hoje é dia de ser Romero Britto. Vai ter calça quadriculada, e ai de quem perguntar se eu vou pro circo. Vou pintar o olho de azul cobalto – me deixa.

Hoje eu vou fazer coque, vou usar meus grampos azuis e amarelos no cabelo vermelho. A cabeça de vulcão é minha, então me deixa. Hoje a saia não vai cobrir meus joelhos, as canelas brancas vão ficar de fora, hoje vai ter estampa de florzinha, vai ter sapato verde. Agostinho Carrara que me inveje, e o resto, me deixa.

Me deixa ser o que eu quiser. Deixa eu me achar bonita quando uso batom vermelho, quando corto a franja reta, quando combino pérolas da cabeça aos pés.

Eu já conquistei muito pra ficar presa a tons de terra, pra ser nude, pra deixar o cabelo liso e imóvel. Tem que ser clássica, tem que ser clean, tem que ser fashion, tem que deixar a sombra verde pro Carnaval. Quem disse? Fico aqui esperando a Glorinha Khalil.

Pra quem não acha que tá bom, sinto muito, mas se não gostou, me deixa.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.