Sem meias palavras

Louca

Escrito por Rose Carreiro

Miga, você não está louca. Te fazem achar que é coisa da sua cabeça, mas na verdade, a loucura é que você está normalizando o abuso que vem sofrendo.

Miga, sua louca, você não tá louca!

Suas DRs não precisam te deixar duvidando do que você acredita e sente que está passando. Se impor não é sinônimo de ser escrota. Exigir o mínimo que acha que tem direito não é querer demais. E se te tacham de louca, isso é obra do tinhoso – ou do machismo – e tem até nome chique: gaslighting.

Suas palavras são distorcidas quando discute uma necessidade e você fica como a doida da história? Você fala que quer sentir paixão e ouve do outro que isso é coisa de filme? Expõe uma falta, de volta recebe um monte de críticas no melhor estilo “parece que o jogo mudou, não é, queridinha?”, e sai se sentindo a errada e/ou desequilibrada? Welcome to my life. Melhor, bem-vinda à nossa vida. Minha, sua e de um monte de mulheres que são colocadas nessa posição de devaneantes pelos homens. 

Parece que, se a gente esmiúça e aponta os motivos da nossa insatisfação, soa como se só quisesse “ganhar” a discussão. Se a gente segue a intuição e expressa uma ameaça, recebe um deboche ou um descrédito. Se a gente pede, está cobrando demais. Achar que merece além? Tá sempre insatisfeita com o que tem.

Cansei de ouvir que “a vida, os relacionamentos, as coisas são assim mesmo”.  E lá ia eu pensar que era a louca de novo. Por querer ser feliz. Por não me conformar que a vida só podia ser isso.

Pois eu bem gosto de ser louca. Mas aquela louca de querer ser livre. De perder a vergonha e poder dizer o que eu gosto e o que eu quero, de não ter medo de me mostrar. Louca de ter vontade de satisfazer e de ser satisfeita. De ser selvagem, de me sentir eu, de me sentir vivendo mais do que sobrevivendo. Quero ser louca de perder a cabeça entre quatro paredes, e não pensar em ninguém, só no meu prazer. Essa é a loucura que eu alimento. E acho que você deveria fazer o mesmo. O resto, sua louca, é abuso.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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