23 de abril é um dia inspirador para nós, cronistas, entusiastas a escritores, apaixonados pelas palavras… Hoje, comemora-se o Dia do Livro, um objeto inanimado por fora e arrebatador por dentro, em que a cada página virada, um novo universo se desdobra, ficcional ou real, bom ou ruim.
Quem se abre à literatura dificilmente consegue abandoná-la. Quem ama essa arte, como nós, sempre irá defendê-la. Por isso, peço um momento para gritar:
Abaixo à taxação de livros. Todos têm direito à literatura!
Como muito bem disse Marisa Midori Deaecto, taxar livros é imoral e inconstitucional. Precisamos fazer de tudo para impedir a taxação de livros em nosso país, mas este é um importantíssimo assunto para outro capítulo.
Para celebrar essa data que no momento é, também, de resistência, nosso time preparou uma lista excelente e bem variada com dicas de livros para você!
Bruno Zanette
The Dirt: Confissões da Banda de Rock Mais Infame do Mundo
Mötley Crüe e Neil Strauss
Editora Belas Artes (2020)
O livro traz um relato autêntico de como é conviver em meio à música, drogas, sexo e, claro, muito rock n’ roll. Organizado pelo jornalista Neil Strauss, a obra traz depoimentos incríveis, e até insanos, dos integrantes Vince Neil (vocalista), Mick Mars (guitarrista), Nikki Sixx (baixista) e Tommy Lee (baterista), divididos em capítulos com textos em primeira pessoa.
Entre as histórias absurdas e malucas desse quarteto contidas no livro, estão as turnês com Ozzy Osbourne, um verdadeiro Deus do heavy metal. Não vou contar o que o Ozzy teria aprontado com o Mötley Crüe em um hotel, para não causar spoiler. Confesso que ainda estou na metade, mas já posso garantir que o livro é sensacional, sem medo de quebrar a cara no final. Como sempre acontece quando leio uma biografia de algum artista musical, procuro tudo o que é relacionado ao trabalho do personagem ou personagens biografados. Com esses norte-americanos não é diferente e, se puder ler escutando suas canções, a experiência será ainda melhor.
Guilherme Alves
A Deusa no Labirinto
Karen Soarele
Editora Jambô (2019)
Em um mundo de fantasia repleto de intrigas políticas e assolado por uma ameaça sobrenatural, acompanhamos Gwen, elfa que aceita voluntariamente ser vendida como escrava em Tapista, o reino dos minotauros, onde a escravidão não só é legalizada, mas também celebrada e tida como parte fundamental da cultura local – principalmente a escravidão feminina, já que não existem “minotauras”, e os minotauros precisam de escravas para manter sua linhagem. O plano ambicioso de Gwen é fazer contato com a Resistência, e ajudar a acabar com a escravidão no reino, de dentro para fora. Entretanto, eventos desconhecidos por ela – e que têm a ver com o título do livro – podem interferir em sua missão. Finalista do Prêmio Jabuti 2020, Karen Soarele escreveu um livro fantástico em todos os sentidos: altamente imersivo, com surpresas a cada capítulo, personagens apaixonantes e carismáticos, e um esmero incrível na descrição da cultura de Tapista, reino propositalmente inspirado no Império Romano. Além disso, um ponto importantíssimo é que Karen é mulher, o que torna as preocupações, aflições e reações de Gwen muito mais verossímeis – como é dito no prefácio do livro, por Guilherme Dei Svaldi, nenhum escritor homem poderia retratar com perfeição o que é ser diminuído meramente por seu gênero.
Juliana Brito
O Olho Mais Azul
Toni Morrison
Companhia das Letras (2019)
Indico "O Olho Mais Azul", uma das leituras que mais me impactou nos últimos anos. A Toni Morrison é incrível, tece uma história tão difícil com maestria e coragem, ao tocar de forma original em temas delicados como: racismo estrutural, colorismo, violência doméstica, padrões de beleza, representatividade, construção/deformação da autoestima, infância, relacionamentos tóxicos, machismo, abuso sexual, dentre outros. Queria tanto que os defensores da família e os que negam o racismo lessem e refletissem sobre a importância de protegermos a infância. Dói tanto, tanto mesmo, ver o que acontece como consequência de tanta vulnerabilidade. Realmente, não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas. Para os que ousarem enfrentar o desconforto de ver por dentro as situações narradas pela autora, talvez se descortine o desejo de caminhar de forma diferente no mundo. Foi o que aconteceu comigo.
Leandro Duarte
A Casa dos Budas Ditosos
João Ubaldo Ribeiro. Ou seria CLB?
Editora Alfaguara (2019)
Vamos falar de amor livre? De Luxúria? Sim! Mas prefiro dizer que vamos falar é de putaria. João Ubaldo Ribeiro afirma ter recebido, em áudio, os relatos e reflexões de CLB, uma jovem senhora de 68 anos, nascida na Bahia, residente do Rio de Janeiro. O relato dessa tiazinha é um grito pela liberdade sexual, sobretudo da mulher; é o feminismo na sua forma mais pura, a da igualdade irrestrita. É uma crítica deliciosa às caretices e pudores que a sociedade imprime em cada um de nós. Prostituição, drogas, voyeurismo, abuso, incesto. Politicamente incorreto, da primeira à última página. Não estou aqui defendendo que todos tenhamos a vida dessa simpática senhora, mas estou.
Letícia Nascimento
O papel de parede amarelo
Charlotte Perkins Gilman
Editora José Olympio (2016)
Esse livro foi, sem dúvidas, um divisor de águas em minha vida, inclusive em relação à literatura. Poucas coisas que li me impactaram tanto quanto esse conto. A personagem criada pela grande intelectual feminista, Charlotte Perkins Gilman, nos invade com seus sentimentos poderosos e um terror que parece distante e, ao mesmo tempo, muito familiar a nós, mulheres. O livro curto - uma leitura rápida e esmagadora - publicado originalmente em 1892 e brilhantemente atemporal, se tornou um clássico da literatura feminista ao relatar o processo de enlouquecimento de uma mulher, em uma narrativa que já foi considerada de terror, mas que amedronta exatamente pela brutal realidade que expõe.
Mayara Godoy
Nós
Ievguêni Zamiátin
Editora Aleph (2017)
Para quem gosta de distopias, recomendo o livro "Nós", de Ievguêni Zamiátin. O romance é considerado o precursor de obras famosas como 1984, Admirável Mundo Novo, Laranja Mecânica e Farenheit 451. Em "Nós", Zamiátin descreve um governo totalitário chamado Estado Único que, supostamente pelo bem da sociedade, privou a população de direitos fundamentais como o livre-arbítrio, a individualidade, a imaginação, os sonhos, a liberdade de expressão e o direito à própria vida. Um mundo completamente mecanizado e lógico, onde as pessoas não possuem nomes, mas números, e o Estado dita os horários de trabalho, de lazer, de refeições e até de sexo. É uma leitura fluida e profunda, a qual você corre o risco de concluir em um dia só, como aconteceu comigo.
Patrícia Librenz
Mães Arrependidas: uma outra visão da maternidade
Orna Donath
Editora Civilização Brasileira (2017)
Este livro é fruto de uma pesquisa de campo feita para uma tese de doutorado. A pesquisa, realizada em Israel pela socióloga Orna Donath, foi publicada originalmente em 2015. A autora, que não quer ser mãe e ouviu a vida inteira “você vai se arrepender por não ter tido filhos”, entrevistou várias mães para entender se o arrependimento seria algo intrínseco apenas da escolha pela não maternidade. E o que ela descobriu é até meio óbvio, mas nem por isso torna o livro menos interessante: o arrependimento faz parte da vida e é possível arrepender-se de qualquer coisa - inclusive de ser mãe. Mas o silenciamento desse sentimento - de arrependimento pela maternidade - é tão forte em todas as culturas, que o fato de essas mulheres estarem caladas traz uma falsa sensação de que não se ouve falar disso porque elas não existem, quando, na realidade, não há permissão social para que elas falem a verdade. E nesse livro, elas puderam falar TUDO.
É um livro que deveria ser lido por todas as pessoas que podem engravidar, pois ensina muito sobre empatia, feminismo, sororidade… e faz refletir sobre esse sistema que aprisiona e oprime as mulheres: o patriarcado.
E você? Tem algum livro imperdível para nos indicar? Comente!