Salve, de boa? Aqui não.
Esse final de semana “comemoramos” o Dia do Trabalhador. Obviamente não há muita coisa a se comemorar. O mundo tá acabando nessa pandemia eterna de ignorância, anticiência e paunucuzice.
Desde o início deste apocalipse, mais ou menos 15 anos atrás, eu tenho privilegiado em minhas escolhas de consumo o comércio local, sobretudo os pequenos. Pago um pouco mais caro na carne e na cerveja, mas compro no mercado do bairro.
Apesar de preferir cozinhar a pedir o jantar, durante esses vários anos de clausura, criei o hábito de, pelo menos uma vez por semana, pedir comida de algum restaurante do bairro. Já falei algumas vezes por aqui, sou um cara de sorte, e ao contrário de boa parte da população, não tive nenhum corte em minha renda mensal, além, claro, da inflação que fode com todo mundo. Então acho justo, dentro das minhas possibilidades, tentar ajudar a manter vivo o comércio aqui da quebrada.
Nessa de pedir rango nos restaurantes próximos, comecei a adicionar esses mano no Whats. Você tá ligado que o iFood tira uma grana desses caras, né? Então, sempre que possível, peça diretamente pro restaurante. Bom, nessa de adicionar os caras, a porra do status do Whats tem mais publicação que os stories do Instagram – a propósito, tá moscano se não segue o Crônicas lá, hein, carai.
Voltando ao final de semana, um desses restaurantes do bairro que adicionei no Whats durante a pandemia, entre um marmitex e outro, publicou: “Eu autorizo, Presidente”. Confesso que tenho evitado os noticiários e não fazia ideia do que estava por trás desta mensagem. O que esses filho da puta tão autorizando a mula?
Cinco minutos de Google depois, com estômago embrulhado, comecei a refletir sobre como a gente tá canibalizando nossos próprios valores, mano. A propaganda bolsonarista tá dissolvendo a humanidade do nosso povo, mano. No Dia do Trabalhador, o tiozinho do restaurante do bairro, que tá suando sangue pra sobreviver sem apoio nenhum dessa porra desse governo genocida, faz propaganda gratuita daquele que lhe enfia a tora no rabo, com sal grosso e vinagre.
É uma desgraça que a gente viva neste sistema falido que venceu a Guerra Fria, esse sistema que impõe aos nossos irmãos que ajam, ao mesmo tempo, feito cobras contra seus iguais e feito cordeiros aos seus algozes.
Esse é o jogo que nos foi imposto, a competição é nosso cabresto. Negar o óbvio e ignorar o próximo é só uma terça-feira qualquer no capitalismo.
Eu autorizo a todos que chegarem até aqui a observarem seus hábitos de consumo. Vamos, sim, ajudar os nossos. Compre do pequeno, do comércio local, mas não compre desses filhos da puta que apoiam o fascismo e genocídio bolsonarista. Nós estamos do lado daqueles que não desprezam a vida dos nossos irmãos. Quem tá do outro lado é inimigo, parceiro. Estamos em guerra.