Pensamentos crônicos

O preço das aparências

Escrito por Guilherme Alves

Será que pagar mais dinheiro é garantia de obter maior qualidade?

Numa loja, uma calça jeans custa R$ 79,90. Na outra, uma calça jeans custa R$ 299,90. A mais cara deve ser melhor, certo? E por quê? Porque é mais cara, oras.

Em nossa sociedade capitalista, nos acostumamos a associar preço a qualidade. O perfume mais caro é mais cheiroso, o queijo mais caro é mais gostoso, a roupa mais cara veste melhor. Isso nem foi uma das invenções do capitalismo, e, na maioria das vezes é verdade: os produtos mais caros costumam ser feitos com materiais, por assim dizer, mais nobres, que são eles mesmos mais caros, puxando o preço final para cima. Um queijo feito com leite das vacas virgens das montanhas holandesas tem motivos para ser mais caro que o feito com leite da vaquinha que a Dona Maria tem no quintal.

Só que eu não usei as expressões “maioria das vezes” e “costumam” à toa. Isso porque nem sempre o preço elevado decorre da utilização de materiais de maior qualidade. Muitas vezes, estamos pagando apenas pelo nome. Uma roupa de uma marca famosa muitas vezes é produzida com os mesmos materiais, às vezes até pela mesma equipe de costureiras, que as de outra marca de menos prestígio, e, mesmo assim, custa muito mais. Nesse caso, ocorre o que muita gente chama de pagar pelo nome: o único motivo pelo qual estamos pagando mais caro é pra poder dizer que compramos um produto daquela marca.

É claro que ninguém gosta – ou, pelo menos, ninguém deveria gostar – de dizer que só comprou uma coisa pela marca, então, muitas vezes, as marcas têm de ser criativas para justificar seu preço. Aí surgem a calça jeans que modela o bumbum, o copo que mantém a bebida gelada por seis horas, o desodorante que impede que você feda por dois dias inteiros. Se isso é ou não verdade, não importa, é a justificativa que todos, a marca e os consumidores, vão usar para validar sua escolha.

Mas o pior mesmo é quando a justificativa não justifica nada. Quando o produto diz fazer a mesma coisa que todos os outros fazem, e, mesmo assim, todo mundo fica satisfeitíssimo de ter pagado uma fortuna por aquele produto. E aí as discussões ficam sem pé nem cabeça, com um lado dizendo que é um absurdo aquilo custar tão caro, e o outro justificando com “mas ele faz isso aqui” (que todos os outros também fazem).

Enfim, cada um faz o que quer com seu dinheiro e eu não tenho nada com isso, mas eu acharia mais bonito se as pessoas fossem livres para declarar sua preferência por uma determinada marca sem ter de fazer malabarismos. Tipo “comprei porque é desse que eu gosto”. O que, afinal de contas, é sempre o melhor motivo para se comprar alguma coisa.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

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