Canto dos contos

Dependência

Escrito por Leitor / Leitora

“Abriu a janela e puxou logo um cigarro. Ficou ali, olhando o movimento da rua, enquanto pensava sobre tudo. Queria ser independente, mas sabia que dependia do amor que recebia dele. “

Texto enviado pelo leitor Paulo Neto

Abriu a janela e puxou logo um cigarro. Ficou ali, olhando o movimento da rua, enquanto pensava sobre tudo. Queria ser independente, mas sabia que dependia do amor que recebia dele. Tratava as coisas assim. Faço. Ponto. Quando ele resolveu fazer, saiu sem avisar, mentiu sobre onde estava. Ficou puta. Claro. Ele nunca havia feito isso antes. Mas, por quê? Troco? Vai saber. E a confiança, onde é que fica? 

Voltou pro quarto pra terminar as unhas. Difícil escolher um esmalte agora de cabeça cheia. Um bem marcante pra chamar a atenção. Afinal, é preciso estar bem para pensar melhor no que fazer. Agora está com raiva, claro. Uma mensagem dele chega no celular. Apenas visualiza nas notificações e apaga sem abrir. Ele, do outro lado, sem saber mais o que fazer. Faz nada não, filho. Tá feito. Unhas feitas, cabeça a mil. Toma um banho e sai com a amiga pra um barzinho. Conversar ajuda – e muito. Colocar pra fora tudo aquilo que sente a respeito do namorado. Ele em casa, sem grana, e a cabeça fervendo. Errou. Errou. Mas até quando ia ficar suportando as atitudes dela sem fazer nada?

De certo que ambos não sabem exatamente o que se passa na cabeça e no coração um do outro. Quem é que sabe? No barzinho, entre uma cerveja e outra, um rapaz se aproxima. Dá aquela cantada barata e volta pra sua mesa. Elas riem uma pra outra. A amiga incentiva. Vai, boba. Ela decide que precisa fazer isso pra se sentir melhor. Vai até a mesa do rapaz e o chama pra sua.    

Enquanto isso: vou fazer uma caminhada, pensa ele. A cabeça está cheia demais pra ficar em casa só pensando em tudo. E sem grana… o que mais posso fazer? Assim, quem sabe, eu durmo quando chegar. E ele passa justamente em frente ao bar.

A mão do rapaz no cabelo dela. E agora? Que ideia infeliz. A respiração fica rápida, as mãos tremem. Ele foi embora e ela não viu. Ela dispensou o rapaz e ele não viu. 

Abriu a janela e puxou logo um cigarro. Ficou ali olhando o movimento da rua enquanto pensava sobre tudo. 

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