Cerveja, Mulher e Futebol Sem meias palavras

Empoderamento rosa e outros equívocos

Escrito por Rose Carreiro

O feminino não é rosa, e o empoderamento às mulheres no campo profissional tem que ser mais do que frases mixurucas de autoestima.

Já torci muito o nariz para o termo “empoderamento feminino”. Assim como toda palavra que vira moda e acaba às vezes aguando o sentido real, me deparar com o uso do verbo “empoderar” em qualquer frase para “lacrar” – outro termo pelo qual nutro ojeriza – em discursos que não faziam pra mim o menor sentido prático me deixava com uma sensação ruim diante da expressão. Mas, acostumada à definição e à consciência de que algumas palavras devem ser repetidas à exaustão se quisermos manter viva a luta, venho eu aqui falar um pouco de empoderamento, ainda que seja pra citar equívocos. 

Conversando com uma amiga que participou de um evento de empreendedorismo (mais uma no caderninho do asco, pra não dizer ranço, que é outra palavra que me gera urticária) feminino, debatíamos o quanto, às vezes, mesmo nossas semelhantes têm uma visão equivocada do que é esse “feminino”. Só o uso da cor rosa e da trilha sonora de Spice Girls pela organização – majoritariamente formada por mulheres – de tal evento já evidenciaram que o #girlpower ali não era mais do que uma caricatura do real empoderamento. 

O que se espera quando se fala de empoderar mulheres no mundo dos negócios e de investir em suas ideias? Camisetas pink e uma cortesia de maquiagem com glitter? Post-its com frases mixurucas de apelo à autoestima e absorventes grátis no banheiro tampouco fazem tamanha diferença para nós. Imagino os publicitários de Mad Men nos anos 60 decidindo pelas mulheres empreendedoras o que seria feminino a elas. 

Apoiar mulheres e dar a elas poder é dar espaço. É levar a sério que podem crescer profissionalmente e estar à frente, seja de uma startup ou de uma multinacional. Não é sobre isolar os homens, mas igualar as chances para as mulheres no mercado de trabalho. É vê-las como fortes e capazes. Apoiar mulheres também é entendê-las, e reconhecer que o feminino não é sobre vaidade ou beleza. Ninguém precisa de cílios postiços para provar que é poderosa na hora do pitch

E rosa nem é a cor favorita das mulheres fodas que eu conheço. 

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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