Estamos no momento de começar a fazer a retrospectiva de tudo. Trabalho, relacionamentos, metas e objetivos. Porém, quando se trata de Brasil, a retrospectiva está mais para retrocesso.
2019 tem sido um ano, digamos, angustiante. Dezembro deu as caras com gente acreditando, piamente, que a Terra é plana. E esse já é, por si só, um argumento tenebroso o suficiente para dizer que quem tem bom senso sofreu muito nos últimos meses.
No ano em que as fake news reverberadas deram brecha pra muita gente lunática aparecer na mídia – mais sensacionalista do que nunca – temos visto o horror a céu aberto e a cores, sem conseguir sair do lugar.
A Amazônia pegou fogo, o mar paradisíaco do Nordeste se encheu de óleo, ONGs que atuam há décadas na proteção do meio ambiente foram atacadas, o desmatamento avançou e nossos alimentos nunca tiveram tantos novos agrotóxicos.
Muitas mulheres pagaram com a vida o incentivo velado que seus companheiros (e exs) receberam com falas atrozes sobre porte de arma e lugar da mulher na sociedade. As minorias estão se sentindo mais desprotegidas a cada dia e notícias como: “Homem atira contra moradora de rua após ela pedir esmola” estão nos noticiários e são reais.
Voltamos a ouvir os termos censura na arte, com intervenção policial em museu e filme produzido por brasileiros que não poderá ser exibido no país. A educação pública, que já respirava por aparelhos, está agora prestes a ser eutanasiada pela iniciativa privada, e sendo desrespeitada em todos os níveis por quem deveria protegê-la. Os direitos trabalhistas caindo por terra, um a um.
Nem quero entrar nas questões econômicas, de disputas de poder e a divisão tão simbólica que pairou sobre os brasileiros ainda mais este ano. É como se o ar estivesse dividido em dois e uma parte estivesse tão pesada, que só encontrando outras pessoas sensatas fosse possível respirar.
Dezembro é sempre mês de relembrar, mas é muito triste saber que este ano nem acabou e já ficará marcado como um dos piores para existir nessas minhas três décadas de vida.
Já estive pior física, emocional e financeiramente, claro, mas falo como cidadã, como pessoa que tem consciência de classe, noção do que acontece ao redor e não consegue ficar presa à bolha que me cerca.
Tem sido muito difícil ser brasileira. E isso dói.
O Crônicas de Categoria me salvou em 2019. E ter a sua amizade também foi um presente no meio de um ano tão desesperançoso. Me segura que eu te seguro, e a gente vai sobreviver.
Obrigada, lindeza! Sua amizade foi presente de 2019 pra mim! Sigamos juntas!