Ninguém sabia como aquele mágico conseguia realizar seus truques. Pegava sua cartola, dava duas batidas com sua varinha, e de lá de dentro saía um coelho. Colocava o coelho de volta lá dentro, mais duas batidas, e ele desaparecia. Buquês de flores, pombas, lenços coloridos entrelaçados, tudo parecia sair de dentro de uma cartola que, sempre na mão do mágico, não poderia conter tantos objetos.
Ninguém sabia, também, da vida pessoal do mágico. Encerrado o show, ele ia direto ao camarim, saía de lá após alguns momentos com a mão em volta da cintura de sua belíssima esposa, entrava em sua limusine e se dirigia a seu endereço secreto. Não dava entrevistas, não dava autógrafos, só aceitava se apresentar naquele teatro.
Um dia, um teatro rival contratou dois rapazes para tentar descobrir o segredo do mágico. Um deles reparou que, quando saía do camarim, ele jamais estava com sua cartola, e, ao retornar na noite seguinte, tampouco a trazia. Ambos decidiram, então, invadir o camarim, procurar a cartola, talvez roubá-la e entregá-la a seu empregador.
Durante a madrugada, com a ajuda das ferramentas apropriadas, os rapazes abriram a porta e adentraram o camarim. A cartola estava sobre a mesa, desprotegida, como se fosse um objeto qualquer sem valor. Enquanto um deles tomava conta da porta, o outro foi até lá e se pôs a examiná-la.
De repente, um tentáculo saiu de dentro da cartola e envolveu o rapaz. Fez-se o som de sua coluna se partindo, e seu corpo foi tragado para dentro da cartola, desaparecendo. O segundo rapaz tentou fugir, mas o tentáculo retornou, com velocidade impressionante, e o agarrou pelo tornozelo, batendo-o com violência contra uma parede antes de também levá-lo para dentro da cartola.
Na noite seguinte, o mágico chegou, se dirigiu ao camarim, colocou a cartola na cabeça e foi ao palco realizar seu número.