Era uma casa quarentenada,
Com a família inteira trancada.
Ninguém podia ir pra rua não
Não vale o risco, não seja cuzão!
Ninguém ouvia o presidente
Filho da puta, verme imprudente.
O mundo chora e ele ri
Espero ansioso sua cabeça cair.
E não importa empresário aos berros
Economia é meu ovo, dinheiro eu recupero.
Tá foda, né, irmão. Não aguento mais essa porra de quarentena, tá tendo até paródia de poeminha da infância pra espantar o mal e seguir por mais um dia limpo. E o mal que tá na gente, parceiro.
Na minha vida inteira, não consigo me lembrar de um período em que tivesse tanto tempo pra raciocinar como tenho agora. A rotina te faz esquecer as paradas, esquecer de analisar quem é a pessoa que mora dentro de você. Quem é verdadeiramente esse cretino que você chama de “eu mermo”.
Este exercício de entender quem é o “eu mermo” é assustador, tem um par de merda que a gente faz sem nem perceber. Quantas vezes a gente é pau no cu de graça, só porque acordou de mau humor, quantas vezes a gente deixa uma luta importante de lado, só pra virar de lado e continuar a emburrecer na frente do celular?
Perceber quem é o cretino que habita cada um de nós, minimamente, vai te tirar do conforto. Você pode seguir sendo um merda, mas pelo menos será um merda incomodado com o próprio cheiro.
Se nem com o cheiro de fossa invadindo sua casa quarentenada você for capaz de entender que precisa melhorar, truta, JB é seu presidente e vocês dois têm mais é que se foder mesmo.
Fique em casa, saia apenas se for necessário. Lave as mãos. Lave uma louça também, aproveite o tempo pra olhar pra dentro de você, não seja um merda que espalha chorume e notícia falsa por aí.
Abrace quem você ama, mesmo que seja à distância.
Por fim, todos os dias ao acordar, se lembre que a mula de Brasília tá pregando aos quatro ventos que você tem o dever de eventualmente morrer, com a missão salvar a economia, o Justus e aquela cambada de playboy que te explorou a vida inteira. Toda riqueza é produzida pela classe trabalhadora, irmão, entenda isso.