Pensamentos crônicos Relatório de Evidências

Nunca vou entender

Escrito por Letícia Nascimento

Nossa vida é permeada de questionamentos. Diante da pandemia, algumas dessas questões gritam: por que algumas vidas parecem valer menos que outras? Por que a humanidade falhou em ser humana?

Desde que a maioria dos meus porquês aos meus pais começaram a ficar sem respostas, iniciei um processo interior de compreender que eu seria uma pessoa sem conclusões. Eu sempre questionei muito e sempre quis entender tudo à minha volta. Quando percebi, porém, que isso seria impossível, pois jamais saberemos o que estamos fazendo por aqui, resolvi me acostumar com o não saber e, assim, minimizar um pouco os impactos da incompreensão forçada. 

Claro, não adiantou. Cresci sofrendo por não entender uma série de coisas, principalmente questões que partem de um ser humano mas que impactam todos os outros. E esse monte de perguntas sem resposta se transformam em pequenos tormentos diários. 

Um exemplo em tempos de pandemia: por que é tão necessário que morra alguém, ou preferencialmente alguns, para que as pessoas sigam, ou no melhor cenário cogitem seguir, as indicações de um órgão mundial voltado à saúde? 

Por que a vida de qualquer outra pessoa vale menos que a sua? Por que alguém tem que sofrer, física e socialmente, para que você entenda a gravidade de uma situação e preserve a você e a sua família? Por que é tão difícil entender que existem outras famílias no mundo? E que a realidade dos outros não é a mesma que a sua? 

Viram só quantas perguntas sem resposta? É um mar de questionamentos que permeiam meus dias e me tiram, pouco a pouco, a vontade de mudar o mundo. Porque nós, sonhadores, crescemos com ideias utópicas de que um dia vai ser melhor e que poderemos fazer parte da mudança. 

Eu nunca vou entender por que tem gente que coloca coisas acima de pessoas; nem como é possível ignorar anos de estudos comprovados e tomar uma opinião aleatória como verdade absoluta; nem como é tão difícil entender o conceito de empatia e a importância de colocar esse nobre sentimento em prática; nem por que a desigualdade social se tornou tão comum que não afeta as pessoas como deveria; nem tantas outras coisas que faltariam caracteres para descrever.  

E nessa de questionar, me pergunto todos os dias se em algum momento a grande ficha vai cair, se existe o menor sinal de esperança de dias melhores, de uma geração mais íntegra, responsável e justa. E choro, sempre, ao perceber que não. Que isso não vai acontecer. 

E que só nos resta fazer o mínimo, a nossa parte, o que já deveria ser básico como respirar, e esperar. 

O quê? Se você souber, me avisa, porque não aguento mais questionar. 

Sobre o autor

Letícia Nascimento

Jornalista por formação, redatora por rotina, roteirista de alma, deseja um dia ter a audácia de se intitular escritora. Ama bebês, cachorros e fofuras em geral. Cinéfila que assiste de tudo, viciada em séries e leitora apaixonada. Possui todos os distúrbios possíveis do sono, luta contra a ansiedade crônica e a fibromialgia com humor e acidez. Parece jovem mas joga gamão nas horas vagas.

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