Sem meias palavras

Meta a colher

Escrito por Rose Carreiro

Não seja mero espectador da violência contra a mulher. Denuncie. Ajude. Meta a colher.

Você já gritou por ajuda e ninguém te socorreu? Eu já. E nesse fim de semana eu ouvi alguém gritando por ajuda. As sacadas cheias da vizinhança assistiam à briga de um casal, enquanto uma mulher berrava pra que chamassem a polícia, e todos viam e faziam comentários que ecoavam na minha janela, mas poucos foram os que se mexeram para ir até lá e acudir. Gritei com o sujeito para que a soltasse e chamei a polícia. E passei raiva diante daquele cenário em que um homem puxava uma mulher pelo braço carro afora e os espectadores pareciam só estar ali pelo entretenimento.

Quando fui assaltada, ouvi de um homem que estava por ali “escutei você gritando, mas achei que fosse briga de casal, então não cheguei perto para ver o que estava acontecendo”. Não sei o que foi pior: o assaltante ter me jogado no chão e enfiado a mão dentro da minha roupa pra roubar meu telefone, ou saber que tinha gente perto de mim, e ninguém me ajudou por supor que se tratava de uma briga de casal. 

Estamos em 2020 e ainda tem quem se baseie no “em briga de marido e mulher não se mete a colher”? As notícias sobre o aumento da violência doméstica durante a quarentena viraram banalidade, e o feminicídio disparou na América Latina no último mês. Mas as pessoas ainda parecem não se importar ou não se sentir no direito de fazer algo diante de um caso de agressão à mulher. 

Assim como nada deveria ser motivo para agressão, nada também justifica que a gente testemunhe um caso de violência e não faça nada a respeito. Denuncie a violência doméstica. Chame a polícia quando uma mulher gritar por socorro perto de você. Ouça as conversas alteradas dos vizinhos e tente perceber se há algo errado. Observe. Ofereça ajuda quando perceber que uma mulher está em perigo e não consegue se manifestar. Ligue para o 180. Sempre há algo que você pode fazer. Meta a colher. Meta-se. Não seja espectador de novas tragédias. 

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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