Era uma vez, um menino muito pobre, chamado João. João morava em um barraco de papelão na periferia de Pirapopoquara, no sertão do Piauí, com sua mãe e seus cinco irmãos, Kledwasley, Walcleson, Gleituwson, Klebsmardley e Jadslewya Regina. Todos os dias, João agradecia por ter sido o primeiro filho e recebido o nome de seu avô, mas isto não é importante para a história. O que importa é que o pai de João deixara a família há muitos anos para tentar a sorte em São Paulo, mas sumira, jamais dando qualquer notícia ou mandando qualquer dinheiro. Assim, a família de João sobreviveu durante anos nesta pobreza miserável, até que um dia não havia mais jeito: não tinham o que comer.
No quintal, a mãe de João mantinha uma vaquinha, que agora já estava pele e osso, sempre na esperança de que o pai retornasse e eles pudessem fazer um churrasco para comemorar. Se vendo em uma encruzilhada, e já tendo se afeiçoado à vaquinha, a quem toda a família chamava de Mumuca, a mãe de João não teve coragem de matá-la, e pediu que o garoto a levasse até a cidade mais próxima e tentasse convencer Seu Nonô, o dono do armazém, a trocá-la por alguns mantimentos.
Assim, João saiu em sua odisseia para buscar comida para a família. Mas, no meio do caminho, ele encontrou um homem misterioso, que lhe ofereceu trocar sua vaquinha por um punhado de feijões mágicos. Tais feijões, dizia ele, se plantados, se transformariam em um imenso feijoeiro, que daria feijão para sempre, e sua família nunca mais passaria fome. Com lágrimas nos olhos diante de tamanha generosidade do desconhecido, João aceitou a troca. Ao chegar em casa, porém, recebeu um cachação de sua mãe, que pôs-se a chorar, acreditando que seu filho burro havia selado o destino de toda a família.
João, entretanto, não se fez de rogado e plantou os feijões. Como não havia água em um raio de cem quilômetros, eles ficaram ali, naquele chão seco, esturricando, e o pobre menino viu suas esperanças se esvaírem pouco a pouco.
Mas nem tudo estava perdido: o dia das eleições se aproximava, e o Prefeito contratou um caminhão-pipa para fazer propaganda e angariar votos para sua reeleição. Assim que o caminhão passou espalhando água para tudo o que é lado, os feijões magicamente brotaram, dando origem ao pé de feijão mais colossal que já havia surgido em qualquer região do Brasil. Infelizmente, esquecendo-se de onde plantara os vegetais, João restava parado exatamente sobre o local da brota quando esta teve início. Enquanto o pessoal do Guinness era chamado às pressas, e o Prefeito reunia a imprensa para documentar o incrível feito de sua administração, que imediatamente batizou de Feijão Para Todos, o pobre menino era erguido em direção à troposfera, com sua bermuda agarrada no topo do feijoeiro.
Ao chegar aos céus, porém, João descobriu que podia pisar nas nuvens, ao contrário do que Tia Siarinha, sua professora da primeira série, havia lhe ensinado. Não somente isso, ele também viu um imenso castelo, para o qual se dirigiu imediatamente. Após descobrir que de fato o castelo era muito mais imenso do que ele pensava, João se esgueirou por debaixo da porta, e, seguindo o cheiro de comida, foi parar na sala de jantar.
Havia comida suficiente sobre a mesa para alimentar um batalhão. Não somente em quantidade, mas também em tamanho, pois cada ervilha era maior que a cabeça do pobre menino. Maravilhado, João pôs-se a comer, tentando compensar todos os anos que passara na penúria. Enquanto comia, João imaginava uma forma de descer com aquela comida toda para poder alimentar seus irmãos, e nem viu quando o dono do castelo se aproximou.
O proprietário era um gigante gigantesco, muito maior do que qualquer ser vivo que João já tivesse visto, à exceção do pé de feijão. Balbuciando algo como “fin-fó-fum”, o mastodôntico humanoide pegou um mata-moscas, e estava prestes a acabar com a vida de João quando este percebeu o que acontecia e fugiu por entre os quitutes. O gigante passou a persegui-lo freneticamente, enquanto João descia da mesa e buscava se esconder entre os imensos pelos do carpete. A diferença desproporcional de altura favorecia o gigante, que podia alcançar o minúsculo menino sem qualquer esforço, mas João era mais inteligente: enquanto o gigante buscava o aspirador de pó, para sugar de uma vez por todas aquele inseto indolente, ele se agarrou à barra de sua calça. Conforme o gigante aspirava o chão em busca do menino, este escalava suas roupas, sem que o vilão se desse conta. Bastava esperar o anoitecer para que João pudesse por seu plano em prática e vencer seu oponente.
Alcançando os ouvidos do gigante, João começou a falar frases assustadoras, o que despertou e desesperou o gigante, que passou a crer que sua casa era mal-assombrada. Fugindo sem rumo, o gigante acabou por tropeçar no pé de feijão, indo em direção a uma queda de milhares de quilômetros que terminaria por encerrar sua vida. João, ao ver que o gigante tropeçara, pulou e se agarrou a uma das folhas do pé de feijão, descendo em segurança, usando a enorme folha qual um pára-quedas.
Ao chegar ao solo, João descobriu que, no local onde o gigante caíra, existia um lençol freático. Após trinta guindastes retirarem o corpo do gigante, a cratera criada pela queda se enchera de água, criando um belo açude para a cidade. A queda também criou um tsunami no sudeste asiático devido ao deslocamento de terra, mas isso não é importante para a história.
Tendo agora, dentro de sua propriedade, um açude e um pé de feijão gigante, João fez um acordo com o Prefeito para transformar suas terras em um parque temático. Com o dinheiro proveniente de turistas do mundo inteiro, João pôde buscar seu pai no sul e dar uma vida boa à sua família. E o prefeito se reelegeu, embora tenha tido o contratempo de ter que arrumar um local apropriado para sepultar o gigante.
E todos viveram felizes para sempre.
Eu deixaria o desnaturado do pai à míngua, sou rancorosa!
João tem um bom coração