Licença Poética

Pandesia

Escrito por Leandro Duarte

Enquanto o vizinho martela e se ergue aquele prédio safado. Eu corto o tédio na faca de rocambole, e xingo o presidente pra ficar registrado.

Enquanto o vizinho martela, martela.
Eu me encontro pensando, ralhando
De que valem essas tardes de descanso de tela
Emolduradas no quadrado da janela
E pra muitos o mundo segue acabando

Enquanto a obra ao lado daquele predinho safado
Que corre acelerada no dia parado
Me inunda a sala com o som de seu maquinário,
Transmutando o que deveria ser meu santuário
Num retrato barulhento de onde vivem os otários

Através da moldura barulhenta posso ver a Serra
A qual subia todos os dias antes do fim do mundo
Subia só pra conseguir dinheiro que nos mata
E saía o mais cedo possível daquela terra.
Hoje olho para essa serra atrás da fumaça da usina
E que saudade eu tenho de quem tá la em cima

Enquanto o vizinho martela, martela
Eu corto o tédio com faca de rocambole,
Um trago, um gole, um remédio, seja qual for a ordem
E só assim esse tempo duro se torna mais mole.
Leio mais uma página e já perco o foco
Escrevo mais uma linha e volto para o copo

E pau no cu do Bolsonaro! Você é culpado!

Sobre o autor

Leandro Duarte

Leandro, 33 anos, ganha a vida em projetos e TI, talvez por isso sem a menor paciência para toda essa bobagem nerd e cultura pop. Em resumo, inadequado. Grande demais para a poltrona do ônibus de todos os dias.
Pequeno demais para sorrir de tudo. Velho demais para um banho de chuva; muito novo para temer o resfriado. Direto demais para a palavra escrita, e de menos para se fazer compreender. Humano demais para viver de tecnologia. Humano de menos para largar tudo. Comunista demais para os dias de hoje. Comunista de menos para o que é preciso ser feito.
Mesmo inadequado, segue peleando. Como era de se esperar, falhando miseravelmente.

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