Murphy Days

Perdidos en Martínez

Escrito por Guilherme Alves

Turistas de primeira viagem. Taxista amigável. Casacos a preço de banana. Um vulcão. Acompanhem nossa história de hoje para fortes emoções.

Minha primeira viagem internacional ocorreu em 2011, quando eu tinha 33 anos, por motivos de: eu era pobre. Não que hoje eu seja rico, mas, com emprego estável, consigo juntar um dinheirinho para viajar de vez em quando, o que, até aquela época, era impossível. Na ocasião, minha irmã tomou conhecimento de uma promoção, três dias na Argentina e três no Chile, e nos convidou. Fomos os dois casais, eu, ela, minha esposa e meu cunhado.

Nosso embarque estava marcado para uma segunda-feira. No sábado, o vulcão Puyehue entrou em erupção. Conseguimos embarcar para Buenos Aires, mas, no mesmo dia em que chegamos, os aeroportos portenhos fecharam, de forma que os três dias na Argentina e três no Chile se transformaram em seis dias em Buenos Aires. Não magicamente – nossas aventuras para converter o pacote, que incluíram sermos levados para o aeroporto fechado no dia em que embarcaríamos para o Chile, ficarão para outra ocasião – mas o fato é que, após os três dias contratados, nos quais visitamos todos os principais pontos turísticos da cidade, estávamos por conta própria – e sem saber o que fazer para passar o tempo.

Decidimos olhar o guia de viagem que meu cunhado tinha comprado, e resolvemos visitar o Jardim Japonês; em seguida, pegaríamos um táxi e iríamos até o Shopping Palermo, recomendado por uma amiga da minha irmã, para almoçar e ver as modas. Ao informar o taxista sobre nosso destino, ele comentou que o Shopping Palermo era muito caro e não tinha muitas opções de almoço, e nos recomendou o Unicenter, que tinha lojas mais baratas e duas praças de alimentação. Após uma rápida confabulação, aceitamos que ele nos levasse ao Unicenter.

Realmente foi um bom passeio: almoçamos bem, por um preço razoável, e compramos roupas de inverno baratíssimas, por volta de um terço do preço que pagaríamos no Brasil. Só houve um porém: o Unicenter não fica em Buenos Aires.

Quando concordamos com a mudança de destino, ele pegou uma avenida que passava pelo Monumental de Nuñez, o estádio do River Plate, e, enquanto nos contava várias histórias do Boca Juniors, seu time de coração, pegou um viaduto e uma autoestrada que não acabava nunca mais. Somente quando já não podíamos pedir para ele parar ali mesmo que ele decidiu nos informar que o tal Unicenter ficava em Martínez, uma cidade da Grande Buenos Aires. Ainda nos ensinou como voltar, nos orientando a pegar um remis, uma espécie de carro de aluguel cujo pagamento era feito em uma cabine dentro do shopping, porque, como os táxis de Martínez não têm autorização para rodar dentro de Buenos Aires, nos cobrariam a volta – ele, taxista amigo, que gostou de nós, decidiu não cobrar a volta, apenas o que o taxímetro marcasse.

Carioca que sou, durante todo o trajeto fiquei imaginando que ele iria pegar uma saída qualquer, nos levar para um matão, e ninguém nunca mais ouviria falar de nós. Ao chegar, após pagar a corrida e nos despedirmos dele, entramos no shopping meio apavorados com a situação, meio aliviados por ainda estarmos vivos, e ficamos alguns momentos sem saber para onde ir ou o que dizer. Quando finalmente recobrei as forças, pedi: nunca mais me deixem aceitar dicas de destino de taxistas argentinos.

Passei um aperto, mas pelo menos consegui uns casacos e uma história pra contar pra vocês.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

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