Amor é prosa Pensamentos crônicos

Retrato em movimento

Escrito por Juliana Britto

Tudo que a gente queria, agora, era poder estar junto de quem a gente ama.

Tem dias que a saudade aperta tanto que quase sufoca. À noite, sonhei que o pesadelo da pandemia finalmente havia sido superado e voltávamos a encontrar, sem restrições, os nossos entes queridos. Como sonho, o impossível se fez presente. Os que se foram estavam rindo conosco na mesa do café. Distraídos, conversávamos bobagens. Esquecidos das nossas diferenças, nos alegrávamos juntos. Juntos, juntos, juntos, outra vez juntos.

Acordei com lágrimas nos olhos. Procurei os velhos álbuns de família, do tempo quando ainda revelávamos as fotos. Precisava da materialidade do papel impresso como a do livro físico, em que se pode tocar e folhear. Imagens virtuais não me satisfariam naquele momento. A melancolia invadiu meus poros e até superou a vergonha de ver a nossa aparência em décadas passadas. Ri de mim mesmo. Saudades de mim e dos meus.

Encontrei, entre as folhas plastificadas do álbum, um esboço antigo de algo que tentara escrever. Nele eu tinha rascunhado algo sobre nossa casa, ou melhor, sobre a casa dos meus pais, É lá o nosso QG, a nossa Batcaverna. Transcrevo o que escrevi em 2012:

Retrato em movimento

Uma casa barulhenta
com risadas e resenhas
Uma TV que nos assiste conversar
e ver nossos filhos
brincando e crescendo juntos
Cozinha cheirando a café fresco
e à receita gostosa da vovó

Uma sala que nunca fica arrumada
em que há sempre um brinquedo
um chinelo ou um copo
a testemunharem que passamos por ali.

Essa é a casa da minha família,
organismo que se renova com os bebês que chegam
e que logo crescem
aos sons dos nossos aplausos.

Lá, fazemos festa sempre que estamos juntos
Assim, sem avisar e combinar
fazemos festa e barulho
por estarmos juntos e gostarmos disso.

Essa casa não é um espaço físico
mas um estado de espírito.

Sobre o autor

Juliana Britto

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