Pensamentos crônicos

Crônica de Inverno

Escrito por Rose Carreiro

Há boatos de que o inverno está próximo, e eles podem até ser um engodo, mas é só soprar um ar gelado no cangote, que eu imediatamente caio de amores pelo anúncio do frio.

Muitos de vocês preferirão ler as próximas linhas acompanhados de um chocolate quente (e os mais entusiasmados podem trocar por um choconhaque). Por aqui, a temperatura mal caiu, já ergui minha taça de malbec xícara de chá fumegante em comemoração. Há boatos de que o inverno está próximo, e eles podem até ser um engodo, mas é só soprar um ventinho gelado no cangote, que eu imediatamente caio de amores pelo anúncio do frio.

Nas ruas, começaram os desfiles de botas, lãs e agasalhos cheirando ao ano passado de qualquer closet. Manhãs de neblina são combinadas a gorros e cachecóis, e peças de nomes que poderiam ser um prato russo – eu provaria de bom grado uma refeição que se chamasse pashmina ou pulôver – voltam a ser parte do vocabulário. Novelos e agulhas são desenterrados dos confins do armário pra serem convertidos em horas de tricô.

Qualquer previsão de chuva fina, geada ou golpe de ar se tornam a razão mais que perfeita pra se abrir aquela garrafa de vinho no fim do dia, com a alma livre de julgamentos. Não existe dosagem máxima diária de café, e provar os sabores intensos de todas as comidas mais gostosas e gordurosas é indulgência. Ser antissocial passa a ser aceitável. Happy hour com os colegas do trabalho? Almoço de família? Reunião de condomínio às 08 da noite? Toda ausência é perdoável quando o termômetro está abaixo dos 15 graus.

Dormir volta se tornar um prazer que vai além de apenas descansar. Nada de ligar o ar-condicionado, chutar os lençóis ou querer que o seu ném caia da cama. Um quarto quentinho é um sonífero eficaz. O tecido dos pijamas é reconfortante, assim como o calor irresistível que os pelinhos do cobertor prometem oferecer. Quem tem os pés gelados ganha o direito de se aquecer nas canelas alheias. A conchinha está permitida e não será criticada. O suor no amor ganha licença poética, e todos fingiremos que as meias viraram parte da lingerie.

Vem aí a estação que agrada a todos: quem ama reclamar, reclama do frio. Quem ama o frio em segredo, pode reclamar dele em público, mas tem garantido o prazer de se deleitar ao sair de um banho quente e ser abraçado por um roupão atoalhado. E, para quem odeia as baixas temperaturas, infelizmente elas não vão durar tanto, e eu só lamento desejo que sua praga de calor não chegue tão cedo.

Em todo caso, já coloquei em oração os nomes dos friorentos, para que venha por aí uma frente de ofertas de aquecedores, cobertores de orelha e rodízios de sopas e caldos. De minha parte, sigo na fé de que agora vai! O inverno está chegando, e para ele, eu só peço: vem ni mim.

Crédito da imagem: Freepik

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.