Relatório de Evidências

Eu não sei ser fitness

Escrito por Patrícia Librenz

Ser fitness pode ser uma verdadeira saga, cheia de altos e baixos, dores e reflexões sobre o mundo das pessoas que frequentam a academia.

Já tem algumas semanas que me matriculei no plano anual da academia. Para quem não sabe, academia é um lugar onde as pessoas vão para gastar energia: lá elas praticam atividades físicas, suam e ficam cansadas. E, sim, elas pagam por isso!

Definitivamente, eu não nasci para ser fitness, mas como já está pago e sou uma pessoa que dá muito valor ao meu dinheiro, não vou desistir, e seguirei pagando mico (além da mensalidade) por um ano. Na pior das hipóteses, continuarei sendo a moça que faz todos os passos errados na aula de dança (e, quando acerta, é com delay). Mas, pelo menos, darei boas risadas e, com sorte, terei boas histórias para contar.

Eu resolvi encarar essa furada empreitada e estou seguindo o plano relativamente bem. Todos os dias da semana, estou reclamando de alguma dor muscular: no terceiro dia, lesionei a coxa e já apelei duas vezes para o Dorflex. Considero isso um bom sinal, pois acho que significa que minha assiduidade está de média para cima. Contudo, ainda não comprei nenhuma camiseta escrito “no pain, no gain“, não substituí o jantar pelo whey protein e jamais disse que “vou treinar”. Acho que, nesses quesitos, sou uma péssima frequentadora.

Outro grande problema de eu estar indo à academia é que eu não gosto de musculação (na verdade, não sei praticar, então morro de medo de me machucar), por isso eu só frequento as aulas de dança e faço exercícios de fortalecimento no Pilates solo. Nos demais dias, alterno com alguma atividade aeróbica nos aparelhos. E, justamente eu, que nunca gostei da esteira, estou aprendendo a apreciar essa modalidade de exercício físico. 

Mas antes que vocês pensem que estou me debandando para o lado fitness da força, eu explico: a academia é um ambiente divertido para quem “não é do rolê” – e a esteira me proporciona uma visão panorâmica para ficar contemplando a esquisitice alheia. Enquanto os atletas de plantão fazem caras e bocas diante do espelho durante seu “treino”, eu fico assistindo a tudo de camarote e tentando conter o riso – e fracassando miseravelmente.

Acho até que eu poderia ser uma espiã do mundo real se, pra mim, roupa de ir à academia não fosse a mesma que eu uso pra fazer faxina em casa. Como não invisto em looks de mais de 300 reais para malhar, não uso calças coloridas que brilham no escuro, harmonizando com um meião e um tênis que parece de néon, eu devo dar muita bandeira de que, definitivamente, não estou em meu habitat natural. Às vezes, até dou uma corridinha na esteira para fingir costume, mas como nunca consegui me manter nesse ritmo por mais de 60 segundos, no fundo sei que não convenço ninguém.

Muito menos o Deus fitness – esse eu não engano nunca! Por duas vezes, ao me flagrar rindo da careta de algum coleguinha que puxava ferro, Ele disparou um choque em mim através da esteira. É o castigo divino fitness: “Queima, Jeová pizza!”

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.