Relatório de Evidências

Pendências culturais

Escrito por Rose Carreiro

São tantos livros pra ler, tantas séries e filmes a serem vistos. Sai música nova, todo mundo lançando podcast. E as pendências culturais vão aumentando.

Me dói admitir os fracassos que estão juntando poeira na minha estante. Não posso ignorá-los, aqueles marcadores de páginas acusadores, pendendo na beira de livros começados, mas que fazem parte do “eu não estou com a cabeça boa no momento pra continuar”. Até hoje, só fiz uma receita do Confeitaria Escalafobética (e foi uma mousse).

É duro, mas é preciso confessar a mim e aos amigos que me indicam tantas obras. As séries, que também se acumulam na lista de começados, mas que parei por algum motivo – me deprimia demais, aquele ator tinha um jeito chato, apareceu outra coisa mais interessante pra ver – só não são maiores em número do que os títulos que ainda pretendo assistir. 

Cada vez que ligo o Kindle e a home me mostra aqueles nomes com 20%, 32%, 5%, as amostras baixadas, sinto o coração acelerar com a ansiedade. Fora aquela sensação constante de que vou morrer sem ter lido e visto tudo que me propus a consumir culturalmente.

Para quem cresceu pegando Jorge Amado emprestado da biblioteca da escola, vendo 4 canais da TV aberta e as mesmas fitas de filmes dublados em VHS, o excesso de opções deveria ser uma bênção, porém, acaba fazendo mal. Net NOW, Netflix. HBO Go, Globoplay. E agora também tem Prime, com aquela adaptação de Good Omens, que eu preciso começar. O coração palpita. Toda vez que leio Neil Gaiman no Twitter, a ansiedade volta. E me bate a bad só de ver o nome Fleabag, que ganhou vários Emmys, e eu ainda nem sei do que se trata.

Mad Men está me esperando no meio da terceira temporada, e não é que parei porque achei ruim, ao contrário – a série é maravilhosa, eu é que não tenho fins de semanas maiores para voltar minha atenção a ela. O Conto da Aia estava me matando, preciso de um pouco mais de tempo pra recuperar as forças pra sofrer. E já tem mais episódios de This Is Us grátis na Fox?

Mantenho muitos títulos com seus nomes vivos nessa lista de pendências culturais. Então, chega o sábado e meu barbudo faz uma proposta indecente: rever só mais uns episódios The Office, enquanto faço aquele carbonara da Rita Lobo que não veio no livro novo. Lá se vão algumas horas de sábado achando Jim e Pam o melhor casal. 

Salvar links de textos a serem lidos depois é aumentar a minha gaveta dos atestados de derrota. Amontoam-se novos episódios não ouvidos dos meus podcasts prediletos no Spotify, que eu sempre deixo pra hora de lavar a louça. Abro o app, me rendo à primeira arte e acabo ouvindo uma nova playlist – porque a lista de sugestões de músicas também é grande – e vai mais uma semana sem saber dos debates importantes e das opiniões sobre os filmes que eu consegui ver.

Aliás, a sétima arte também está na coleção de pendências, eu só me recuso a anotá-las no papel. Se perdi no cinema, as chances de perder na TV e só assistir quando estiver passando no especial de Natal da Globo são grandes. Eu, basicamente, só assisto a Globo quando estou na casa da minha mãe, o que inclui ver Roberto Carlos e os especiais de Natal. 

Me falta tempo livre, um par de fones que prestam, ou um pouco de energia para maratonar (e um sofá mais confortável). Me sobra tanta coisa pra ler, ouvir e ver. Tento priorizar o que mais me interessa, mas minha lista de prioridades também é desorganizada.

Tentadoramente, o acaso me leva à última temporada do Cozinheiros em Ação. Escolho os títulos da sessão pipoca dentre as opções que meu bem também quer assistir, assim, fazemos nossos momentos juntos. Verissimo tem me acompanhado no café da manhã, deixando meus romances de 500 páginas pra outro dia. Ainda bem que o George R. R. Martin não terminou as Crônicas de Gelo e Fogo. 

Escrevo apenas para documentar que essa é uma luta perdida. A lista vai continuar a crescer, e eu caí na tentação de começar The Boys. Daqui a pouco vem o Disney+, sai uma nova graphic novel da MSP, e as matérias do Nexo são tantas e todas muito boas. Comprei P.S. Eu te amo 2 na pré-venda.

Os episódios de podcasts a serem tocados só aumentam, porque às vezes é melhor ouvir de novo aquele do Metal Farofa. As Newsletters vão continuar chegando. Eu nem terminei de ler Deuses Americanos e a série já tem duas temporadas. Meu conforto é saber que, pelo menos, o Tarantino prometeu se aposentar depois do próximo filme.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

4 comentários

  • É muito doido querer fazer um monte de coisas ao mesmo tempo e, óbvio, não conseguir. A gente nunca sabe se primeiro lê um livro, vê uma série, olha redes sociais e no final acabamos acumulando tudo e absorvendo nada.

    • Oi, Paulinha! Obrigada pelo comentário. Depois que publiquei esse texto, um amigo me apresentou o FOMO (Fear of missing out – medo de estar perdendo algo), que é uma síndrome provocada pela necessidade de ficar sempre conectado para saber de tudo, por conta das redes sociais e bate muito com isso de a gente querer fazer um monte de coisas, ver e ler tudo, e acabar não absorvendo nada.

  • Minha televisão quebrou em 1998. Depois disso ganhei dois aparelhos que passei pra frente. Nunca mais soube o que é ter uma televisão em casa. E o computador eu tomo cuidado, para não ficar refém. Mas o fato é que nunca li tanto na minha vida depois que a televisão quebrou. Mas um filminho é sempre bom! rs

    • Será que quebrar a TV pode ser o fim dos meus problemas? Hahahahah e agora vou ter mais um livro pra ler, né, Wilton?! Obrigada pelo comentário e volte sempre 🙂

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