Correspondência Gerando Gentileza

Alô, mãe

Escrito por Leandro Duarte

Fica em casa, parceiro, a guerra chegou sem que ouvíssemos um tiro sequer.

– Alô, mãe. Tá me ouvindo? Tudo bem com a senhora? Tá escondida em casa né?!
– Oi meu filho, tudo bem, tudo certo. É, tem que ficar em casa, né meu filho. Eu to aqui quieta.
– É isso, agora vamos ter que fazer esse sacrifício um tempinho até as coisas melhorarem, não tem jeito. Mas logo isso passa e vamos poder estar juntos, tá?!
– Eu sei, meu filho. Seu irmão falou que tenho que passar álcool até nas compras que ele trouxe aqui, do mercado. Já limpei e guardei tudo.
– Tem que se cuidar mesmo, mãe. Mas vai dar tudo certo, fica tranquila…

Pois é, malandro. A guerra chegou à nossa porta, sem ouvirmos um tiro. Só chegou. Está mudando a forma como vemos o mundo. Agora existe, ou deveria existir, uma janela, uma porta, uma barreira, qualquer coisa, entre nós e o nosso antigo mundo.

Agora existe algo que nos separa do mundo lá fora: o medo. Não que no nosso antigo mundo fosse muito seguro estar do lado de fora, mas agora é muito perigoso, é um risco que não vale a pena, é um risco que nem eu, nem você, nem ninguém deveria estar disposto a correr.

O mundo lá fora tá foda. Só heróis deveriam estar lá fora, só heróis. Pena que isso não acontece.

Além dos heróis, cumprindo diversas funções essenciais para a nossa sobrevivência, existe uma massa que não devemos esquecer: não devemos romantizar o sacrifício das pessoas que precisam trabalhar hoje para ter o que comer hoje, precisam estar na rua, precisam sobreviver e cuidar dos seus.

O Brasil precisa parar, pela saúde de todos nós. Sim, existe um prejuízo financeiro enorme, pelo qual teremos que pagar. Isso não é nada perto da catástrofe que será se mantivermos essas pessoas nas ruas. A única forma de manter o trabalhador informal em casa é subsidiar a sobrevivência deles, permitir que eles fiquem em casa, disponibilizar a todos que precisam uma renda básica de sobrevivência. Precisamos pressionar os governantes, existe recurso e existem mecanismos pra isso.

Vai ser caro e difícil de arcar, mas é preciso que façamos isso imediatamente. Estamos falando de proteger as pessoas que amamos, isso tudo é para proteger a todos aqueles que queremos encontrar quando essa loucura passar.

Se você tem essa chance, fique em casa. Por favor.

Pressione de casa nossos governantes, comece assinando: RendaBasica.org.br

– É meu filho, é meio chato só ter que ficar sozinha né, mas diz que nem visita é bom receber, né, meu filho?!
– É mãe, mas logo passa, a gente vai continuar se falando, e quando tudo isso passar, a gente vai estar junto, tá, mãe?!
– Então tá bom, meu filho. Fica com Deus, e se cuida tá, um beijinho.
– Se cuida, te amo.
– Te amo, filho.

Sobre o autor

Leandro Duarte

Leandro, 33 anos, ganha a vida em projetos e TI, talvez por isso sem a menor paciência para toda essa bobagem nerd e cultura pop. Em resumo, inadequado. Grande demais para a poltrona do ônibus de todos os dias.
Pequeno demais para sorrir de tudo. Velho demais para um banho de chuva; muito novo para temer o resfriado. Direto demais para a palavra escrita, e de menos para se fazer compreender. Humano demais para viver de tecnologia. Humano de menos para largar tudo. Comunista demais para os dias de hoje. Comunista de menos para o que é preciso ser feito.
Mesmo inadequado, segue peleando. Como era de se esperar, falhando miseravelmente.

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