Canto dos contos

Pastelzinho Frito

Escrito por Guilherme Alves

Quem vê cara não sente o cheiro dos pasteizinhos

Era uma tarde quente de domingo. Neuziane estava em sua sala, brigando com um ventilador de teto que não funcionava, quando ele chegou: um cheiro de pastelzinho frito que adentrou sua casa, deixando-a com água na boca. Sem conseguir resistir, Neuziane calçou um chinelo e se dirigiu à padaria, de onde o delicioso aroma com certeza estava vindo.

E foi assim que Neuziane conheceu Francieldo, o novo rapaz que a padaria tinha contratado para fritar seus pasteizinhos. Francieldo era gordo, caolho e não falava muito bem, mas tudo o que ele fazia, fazia com amor, e esse era o diferencial em todos os lugares onde ele trabalhava. Nunca aqueles pasteizinhos haviam cheirado tão bem.

Neuziane pediu meio quilo, e não pôde deixar de notar o carinho com o qual Francieldo colocou os pasteizinhos no pacote e os pesou. Decidiu soltar os cabelos, presos numa chuca no alto da cabeça, antes de recompensá-lo com um sorriso. O rapaz percebeu o gesto e quis desejá-la um bom dia, mas, como ele não falava muito bem, ela também não entendeu o que ele disse. De qualquer forma, foi pra casa feliz com sua nova aquisição.

E assim surgiu uma bela amizade. Todo domingo, quando Neuziane sentia o cheiro dos pasteizinhos, ia à padaria comprar meio quilo e ver Francieldo. Ela até conversaria com ele, se entendesse o que ele dizia. Mas ela gostava de passar aquele pedacinho da sua tarde com uma pessoa que colocava tanto amor no que fazia.

Um dia, porém, Neuziane não sentiu o cheiro dos pasteizinhos. Preocupada, ela calçou seu chinelo e foi até a padaria, saber se tinha acontecido alguma coisa com Francieldo. Em seu lugar, encontrou um rapaz alto, forte, lindo e tatuado, mas seus pasteizinhos não tinham gosto de nada. Pareciam feitos de papel. Neuziane decidiu perguntar ao dono da padaria onde estava Francieldo, e descobriu que ele havia voltado à sua cidade de origem para se casar.

Neuziane comprou cem gramas, e voltou para casa pensativa. Enquanto comia os pasteizinhos com gosto de papel, não pôde deixar de sentir um pouquinho de inveja da noiva de Francieldo. Essa pelo menos comeria pasteizinhos gostosos à vontade.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

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